Capítulo 8 Você ainda agrediu alguém
Um lampejo de pânico cruzou os olhos de Waverly.
“Raylee, do que você tá falando? Como eu poderia ter te armado uma cilada? Agi por ganância, era jovem e ingênua! Minha infância foi cheia de dificuldades, nunca tinha visto um colar tão lindo antes...”
Raylee a encarou com firmeza.
“Se não foi de propósito, por que você só chorou quando a sua melhor amiga me acusou? Por que não falou a verdade na hora e assumiu que foi você quem roubou?”
“É que a senhora Tiffany era completamente assustadora!”, explicou Waverly, visivelmente nervosa. “Ela ameaçou chamar a polícia e disse que quem tivesse roubado ia apodrecer na cadeia. Eu... fiquei paralisada!”
“Então me deixou levar a culpa? Chega. Suas lágrimas de crocodilo me enjoam. Para de bancar a santa!”
Waverly segurou o braço de sua irmã, com as lágrimas escorrendo sem parar.
“Raylee, entendo tudo que você passou nesses quatro anos. Juro que vou compensar. Me pede qualquer coisa, eu faço! Por que você não volta comigo agora pra casa? Te dou tudo que tenho, até o Casimir! Mesmo que eu o ame de verdade e a gente esteja prestes a ficar noiva, eu deixo ele pra você!”
O tom de voz dela transbordava vaidade ao mencionar o noivado.
Raylee puxou o braço de volta, com o rosto completamente indiferente.
“Por favor, para de jogar esse homem inútil na conversa. Vocês se merecem. Não vou voltar. Esqueceu que seu pai já assinou comigo a declaração de rompimento?”
Waverly arregalou os olhos.
“Declaração de rompimento? Não é possível! O papai jamais seria tão cruel...”
“Pois pode ficar tranquila. A única filha da família Goodridge agora é você.”
“Raylee, deve ter algum mal-entendido aí. Vou conversar com o papai, ele não ia te expulsar! Você sempre vai ser minha irmã!”
“Já falou demais. É culpa? Remorso? Tanto faz. Aqui não tem ninguém além de nós duas, então não precisa mais atuar pra mim.”
Raylee olhou para Waverly, que chorava como se estivesse sendo injustiçada, e aquilo só a irritou ainda mais.
Ela desviou o olhar para o chão, onde estavam os cacos da garrafa de vinho.
“Vou chamar outra pessoa pra limpar isso aqui!”
Dito isso, virou as costas e saiu.
Sua saúde estava cada vez pior, e ela realmente não queria mais lidar com Waverly.
Além disso, a melhor amiga dela não era flor que se cheirasse.
Tirando Vera, Raylee não queria mais manter laço algum com a família Goodridge.
Mal tinha saído da sala privativa, Waverly já veio atrás.
“Espera! Ainda tenho algo pra te dizer...”
Raylee estava farta daquele assédio e acelerou o passo, mesmo com dificuldade por conta da perna mancando.
Quando chegou perto da escada, Waverly pisou em falso e quase caiu degrau abaixo. Ela soltou um grito agudo.
Raylee olhou assustada ao ver que ela ia despencar, os olhos arregalados.
Ela podia muito bem ter segurado no corrimão, mas deixou escapar.
Foi nervosismo? Ou estava repetindo a encenação que arruinou minha vida quatro anos atrás?
Um olhar sombrio passou pelos olhos de Raylee.
Rapidamente, ela agarrou o corrimão e se jogou escada abaixo. Antes que Waverly caísse, amorteceu a queda com o próprio corpo.
A velocidade da reação deixou Waverly completamente pasma.
Raylee tinha aprendido a sobreviver na prisão. Diversas vezes escapou de espancamentos ao desviar instintivamente dos golpes mais perigosos.
Agora, por ter amortecido a queda, ela sentiu a cabeça, as pernas e o corpo todo chocando com força contra o chão. A dor era tão intensa que ela quase desmaiou.
Um corte na testa, causado por uma fresta de tijolo da escada, começou a sangrar.
Mas ela não se arrependeu. Mesmo com a dor latejando, conseguiu perguntar: “Você tá bem?”
Waverly era a filha querida da família Goodridge. Se algo acontecesse com ela, mesmo que Raylee não tivesse culpa, seria responsabilizada.
Ela tinha passado por horrores pra sair viva da prisão, e com certeza não era pra continuar sendo o alvo da família Goodridge.
Sob a luz fraca do corredor, Waverly parecia assustada, com os olhos vermelhos, encarando o chão.
Mindy apareceu correndo, ajudando Waverly a se levantar, desesperada.
“Wavy, você tá bem?”
Waverly ainda estava em choque, completamente muda.
O rosto de Mindy se contorceu de fúria. Ela apontou para Raylee e acusou, sem nenhum pudor: “Você empurrou a Wavy escada abaixo? Sua assassina! Essa escada é super alta, como teve coragem? Isso é tentativa de homicídio!”
A mesma arrogância de quatro anos atrás, quando ela apontou Raylee como ladra.
Waverly, ao ouvir aquilo, pareceu despertar.
Com a voz embargada, disse: “Raylee não fez por mal. Ela é boa. Jamais me machucaria de propósito...”
“Como não foi de propósito? Vi com meus próprios olhos! Você correu atrás dela, pedindo desculpas, e ela, com raiva, te empurrou! Foi tudo de caso pensado!” Mindy berrou. “Vamos chamar a polícia! Vamos acusar ela de tentativa de assassinato!”
“Não!” Waverly balançava a cabeça, aflita. “Ela nunca faria isso. Não posso deixar ela voltar pra prisão...”
Raylee perdeu completamente a paciência ao ver as duas fazendo esse teatrinho ensaiado. Ela ergueu a mão e deu um tapa seco no rosto de Mindy.
O estalo ecoou alto.
Mindy ficou em choque. Levou a mão ao rosto, que ficou vermelho e inchado, sem acreditar.
“Você me bateu?”
Raylee não ia permitir que ninguém inventasse mais uma mentira como foi a quatro anos atrás.
“Se eu quisesse te bater, precisava escolher dia e hora?”
E deu outro tapa.
Dessa vez, Mindy foi pega totalmente desprevenida. Sua cabeça virou para o lado, e um zumbido preencheu seus ouvidos.
Raylee a encarou com um olhar cortante e disse entre os dentes: “O primeiro tapa foi por você ter me acusado de roubo e me jogado na cadeia. O segundo, por me acusar agora de tentar matar a Waverly.”
Em seguida, virou-se para Waverly e disparou, furiosa: “Não me importa se foi sua amiga que armou tudo ou se foi você quem planejou. Mas deixa eu deixar bem claro: se eu sobrevivi àquela prisão, não vai ser para continuar sendo alvo de vocês! Se esse teatrinho se repetir, o próximo tapa vai ser bem pior!”
A ameaça calou Waverly por completo.
Ela apertou a barra da saia com força, pálida. Seja por medo ou culpa, não conseguia nem encarar Raylee.
Mindy, ainda zonza dos tapas, voltou a si e gritou: “Você me agrediu! Vou chamar a polícia! Isso não vai ficar assim!”
O barraco atraiu uma multidão curiosa.
E de repente, alguém atravessou a multidão com postura imponente e um ar de autoridade.
Era Samuel.
“Raylee, você ainda teve coragem de agredir alguém?” A voz dele era gélida.