Capítulo 7 Encontro inesperado no bar
Raylee parou em frente a uma loja, e sua silhueta esguia refletida na porta de vidro brilhante.
Sua antiga versão, vibrante e cheia de vida, transbordando juventude e beleza, havia desaparecido.
Agora, restava apenas a sombra de uma pessoa, em estado de saúde precário, se agarrando à vida como podia.
Ela não tinha mais dignidade, sua saúde estava debilitada, e sua reputação destruída, mas se recusava a desistir de si mesma.
Reunindo toda a coragem, Raylee continuou sua busca por um emprego.
Até que avistou um bar com uma placa de “Estamos contratando”. O salário não era grande coisa, mas oferecia refeições e alojamento.
O local era mal iluminado, o que impedia o gerente de perceber sua aparência frágil. Diante da urgência por funcionários, ele a contratou imediatamente.
Raylee valorizou a oportunidade com tudo o que tinha, vestiu o uniforme e começou a trabalhar na hora.
Num canto do bar, depois de se divertirem bastante, Waverly e sua melhor amiga, Mindy Woollen, estavam prestes a ir embora quando o olhar aguçado de Mindy se fixou em Raylee, que arrumava o balcão.
“Wavy, aquela garçonete ali não parece sua irmã?”
“Raylee? Trabalhando como garçonete?” Waverly duvidou. “Impossível. Ela acabou de sair da prisão hoje. Como já estaria trabalhando?” Ela olhou com atenção e franziu a testa. “Mas é ela sim! Inacreditável... já arrumou um emprego logo após sair da prisão. Estava com pressa pra se virar, hein!”
“Vamos lá falar com ela?”, sugeriu Mindy, com um sorriso carregado de deboche.
“Espera!” Waverly estreitou os olhos, com um olhar malicioso.
Por fim, se inclinou e cochichou algo no ouvido de Mindy.
Raylee estava totalmente concentrada em seu trabalho quando o gerente se aproximou e disse: “Um cliente do quarto 808 derrubou uma garrafa de vinho. Preciso que você vá limpar agora.”
Sem pensar duas vezes, Raylee foi até a sala reservada.
Ao entrar, viu Mindy sozinha.
Ela a reconheceu imediatamente como a melhor amiga de Waverly.
Quatro anos atrás, quando Waverly foi flagrada roubando um colar, foi Mindy quem alegou ter testemunhado o furto, um depoimento que selou o destino de Raylee.
Quando inimigos se encontram, faíscas voam.
Ao ver a pessoa que a incriminou, Raylee foi tomada pela raiva.
Mas, por causa do emprego, engoliu a indignação e começou a limpar.
Mindy propositalmente derrubou mais um copo de vinho e a culpou.
“O que é isso, garota? Você não consegue fazer nada direito? Quer que eu reclame de você pro gerente?”
Raylee apertou com força a toalha nas mãos ao ouvir aquilo.
Nesse momento, a porta do banheiro se abriu e Waverly saiu, caminhando com um ar surpreso.
“Raylee, como você veio parar aqui, trabalhando como garçonete? Meu Deus, se o Samuel e a mamãe soubessem disso, ficariam arrasados!”
“Essa garçonete desajeitada é sua irmã? Wavy, tem certeza de que não tá confundindo com outra pessoa?”, perguntou Mindy, fingindo espanto.
Raylee permaneceu impassível, observando o teatrinho das duas.
“Só quero fazer meu trabalho em paz. Por favor, não dificultem as coisas pra mim.”
“Por que você tá trabalhando num lugar confuso como esse bar? Nossa família pode te sustentar. Se precisar de dinheiro, é só pedir!”, disse Waverly, pegando a toalha suja das mãos da irmã com uma expressão preocupada.
Mas Raylee não soltou.
Ela não sabia se aquele encontro com Waverly e Mindy tinha sido coincidência ou algo premeditado, mas não queria se envolver em brigas ou provocações.
Só queria ganhar seu dinheiro honestamente.
Sem dizer uma palavra, continuou limpando a mesa.
“Raylee, deixa que eu te ajudo!”, disse Waverly, começando a limpar com ela.
Absorvida na tarefa, Waverly acabou cortando o dedo num caco de vidro, e o sangue começou a escorrer.
Ela soltou um grito agudo de dor.
Ao ver o dedo sangrando, Raylee não conseguiu mais se conter. “O que você está fazendo?”
As lágrimas de Waverly começaram a cair na hora, como pérolas escapando de um colar arrebentado.
“Raylee, ver você trabalhando machucada parte meu coração. Só queria te ajudar”, disse ela, ofegante, quase sem conseguir respirar de tanto chorar.
Enquanto isso, Mindy, discretamente, começou a gravar a cena com o celular.
“Não preciso da sua ajuda. Pare de atrapalhar!”, Raylee disparou.
“Raylee, você me odeia?”, perguntou Waverly, enxugando as lágrimas, com a voz embargada. “Naquela época, eu era imatura. Vi aquele colar e fiquei obcecada, meu desejo falou mais alto. Foi minha atitude que te levou à prisão e te causou tanto sofrimento. É justo que você me odeie. Vai, me bate, me xinga. Talvez assim eu me sinta um pouco melhor!”
“Te bater, te xingar?” Raylee riu com amargura, encarando Waverly. “Eu voltei do inferno, mas não foi pra te livrar da culpa nem pra te dar consolo.”
Naquele momento, ela estava dilacerada por dentro emocionalmente e fisicamente.
Suas pernas feridas doíam o tempo todo, mas ela não tinha escolha a não ser suportar tudo em silêncio.
A luz fraca do quarto privado a envolvia, criando uma aura triste e oca. Ela parecia uma marionete sem alma.
Waverly a encarou, assustada com a expressão vazia no rosto dela.
Apesar da fragilidade evidente, Raylee exalava uma força silenciosa e perturbadora.
Ela olhou pela janela, com o vento bagunçando sua franja. Continuou:
“Você é a filha legítima da família Goodridge. Minha mãe biológica era apenas uma empregada, mas ela nos trocou de propósito. Você sofreu tanto naquela família... nem te deixavam estudar e ainda queriam te casar com um homem de quarenta anos em troca de um dote. Eu sentia de verdade por você, do fundo do meu coração. Então, quando você voltou pra família Goodridge, estava pronta para te entregar tudo. Estava disposta a viver em paz com você. Eu teria até saído da família se fosse necessário! Queria te tratar como uma irmã de verdade, te dar não só o carinho dos pais, mas também o amor de uma irmã. Mesmo quando a mamãe me pediu pra romper o noivado, aquilo foi como uma faca no peito. Mesmo assim, por sua causa, me afastei do Casimir. Fui sincera com você, mas e você? Como me tratou?”
Waverly já chorava sem parar, com a mão cobrindo a boca, como se estivesse sendo profundamente injustiçada.
Raylee franziu a testa e comentou com sarcasmo: “Dá pra parar de chorar? Está parecendo que fui eu quem te machucou! Você lembra que, quando voltou pra família Goodridge, vivia chorando por qualquer coisa, sem explicar nada? O Samuel achava direto que eu estava te maltratando.”
Waverly continuava calada, chorando compulsivamente.
Raylee sentiu um vazio desesperador, como se estivesse encenando um monólogo sozinha.
Suas palavras haviam levado Waverly às lágrimas e, se Samuel visse aquela cena, com certeza a repreenderia sem ao menos escutar seu lado.
“Raylee, você é uma boa irmã. A culpa foi minha, me desculpa. Eu era muito imatura... não queria que você fosse presa...” disse Waverly, entre lágrimas, curvando-se profundamente diante dela.
“Ah é? Foi só imaturidade... ou você me armou direitinho?” A expressão de Raylee endureceu, e seu olhar se encheu de uma seriedade que não deixava espaço para dúvida.