Capítulo 5 Petal

Depois que ele sai, passo algum tempo andando pelo salão. Estamos em uma mansão isolada, a cerca de meia hora do centro de Boston, que foi alugada especialmente para as festas. Quando o táxi me trouxe, tantas perguntas foram feitas na guarita cercada de seguranças antes de me permitirem entrar, que não estranharia se quisessem saber o tamanho da minha lingerie também. Coloco a taça de água que estou segurando em uma mesa no canto e depois, meio que me escondo atrás de uma pilastra, observando os frequentadores do evento. Mesmo que eu não soubesse que são bilionários, a postura os denunciaria. Algo que tenho reparado depois que comecei a trabalhar para o doutor Augustus é que os muito ricos demonstram poder sem sequer precisar abrir a boca. Acho que é a autoconfiança que o dinheiro trás. Têm a cabeça sempre erguida, como se o mundo lhes devesse reverência. Até mesmo ele é assim. Começo a circular e percebo que realmente a maior parte das pessoas mais velhas está indo embora. Paro no meio do salão e fico em dúvida do que fazer agora. Estou me sentindo deslocada, mas tentando o meu melhor para não deixar transparecer. Nesse instante, a máscara que uso é muito bem-vinda, pois cobre até quase minhas bochechas, que sinto esquentarem. Aperto minha bolsa de mão com força, louca para sair correndo. Quero voltar para a segurança e zona de conforto que minha casa representa. Entretanto, ouço a voz do meu irmão me dizendo para fingir que sou um deles. Posso fazer isso? E então, como se a vida me oferecesse um desafio, quando levanto a cabeça, eu o vejo parado a cerca de cinco metros de onde estou. Há muitos homens aqui e a maioria de tão boa aparência quanto, mas ele se destaca não só pelo tamanho e porte atlético, quanto por um par de incríveis olhos azuis escondidos atrás de uma máscara de seda negra. O terno, de corte impecável, assim como a camisa e a gravata também são negros, o que lhe dá um ar misterioso e extremamente sexy. Meu coração bate forte no peito, enquanto calor se espalha por todo meu corpo. Deve ter chegado agora ou eu teria reparado. É impossível estar na presença de alguém como ele e não notar. Não consigo ver muito de seu rosto, mas uma barba do mesmo tom escuro do cabelo recobre o queixo quadrado. Tem um copo de uísque na mão e passa a vista no salão parecendo entediado. Quando já estou pensando em ir para o outro lado, para não ficar como uma idiota que nunca viu um homem bonito na vida, ele foca em mim. Focar é um bom verbo nesse caso, porque toda sua postura muda. Vejo, fascinada, ele enrijecer a coluna como um predador pronto para o ataque, agora absolutamente concentrado em me encarar. É um olhar de puro interesse masculino. Sinto um estremecimento percorrer meu corpo e os bicos dos meus seios despontarem no vestido. Preciso de muita força de vontade para não cobri-los com as mãos, porque isso só chamaria mais atenção ainda para meu estado. Prendo o fôlego. O homem faz com que o termo beleza soe como algo banal. Manter-me parada não é mais uma escolha, mas como se seu olhar me prendesse no lugar. E não estou preparada para o que vem depois. Os lábios se movem e ele mostra os dentes em um sorriso tão sensual que me faz imaginar aquela boca percorrendo meu corpo inteiro. Como se tivesse vida própria, espelhando sua ação, eu sorrio também. Um sorriso muito envergonhado, mas ainda assim, um sorriso. As pessoas à nossa volta desaparecem. Não ouço mais as conversas, presa no campo magnético do homem lindo. Ele parece que dará o primeiro passo para se aproximar, quando um moreno alto e muito forte se interpõe entre nós, tampando-o. Sem jeito por provavelmente ter interpretado errado sua postura, me afasto. Onde estou com a cabeça? Ao que consta, ele pode ser até mesmo casado. Qual a probabilidade de um homem lindo assim não ter alguém? Subo as escadas para o piso superior, com a intenção de me esconder depois da paquera fiasco. A noite está enluarada e como boa parte da casa tem janelas grandes, acho que do andar superior conseguirei enxergar ao menos a penumbra. Por mais aventureira que eu tente ser, ficar no escuro com estranhos sendo que a única pessoa que conheço é Lleyton, é um pouco assustador. Confiro as horas no meu celular e vejo que tenho mais alguns minutos antes que as luzes se apaguem. Estou quase chegando no alto da escadaria quando alguém segura meu braço. Volto-me para ver quem é e me deparo com Lleyton. — Já fugindo? As luzes nem foram desligadas. — Sou tão transparente assim? — Depois que meu pai saiu de perto de você, ficou parecendo um peixinho fora d’água. — Porque esse não é meu habitat natural. — Esquece isso por hoje. Toma aqui — diz, me oferecendo uma taça de champanhe. Olho para a bebida com receio. — Não estou acostumada a beber. — Deixa de ser boba, fez vinte e um há algumas semanas. Já tem idade legal para álcool[17]. — Não disse que nunca bebi — falo, me sentindo ofendida por ele me tratar como criança. — Apenas que não estou acostumada. Irritada, pego a taça de sua mão. Ele bate nossos copos em um brinde e dou um gole. Tento evitar fazer careta quando a bebida desce pela minha garganta, mas é difícil. É amarga e faz cócegas no nariz. — Bom? — pergunta e acho que esconde um sorriso. — Hum... Não é péssimo. É, definitivamente eu não sou chique. Achei o tal do champanhe horrível. — É a pior mentirosa do mundo, Petal. — Não estava tentando mentir, mas ser educada. — Sinceridade extrema não se trata de um defeito. Na verdade, é uma das coisas que mais gosto em você. Alguma coisa na maneira como ele diz aquilo me incomoda, mas não consigo identificar o que é e de repente, percebo que não tem mais importância porque começo a me sentir mais leve, liberada da tensão de poucos segundos atrás. Nossa, será que um gole no champanhe me fez ficar bêbada? Eu me sinto tão bem que volto a levar o copo aos lábios. — Venha, vamos subir — ele diz. — Quero lhe mostrar algo. Estou pronta para lhe dizer que não, porque mesmo talvez um pouco alcoolizada, não quero nada com ele. Não estou tão enferrujada em relacionamentos para não reconhecer quando um cara quer dar uma desculpa para ficar a sós comigo. Só que o meu “não” custa a sair dos lábios, como se o mundo estivesse em câmera lenta e eu só sacudo a cabeça de um lado para o outro. Sinto-me definitivamente bêbada. Antes que ele possa insistir para que subamos, alguém o chama. Mesmo parecendo irritado, ele pede licença e vai ao encontro da pessoa. Aproveitando a chance de escapar, subo as escadas. Já estou no corredor, com a mão na maçaneta do que eu imagino que seja um dos quartos, quando ouço alguém dizer atrás de mim. — Encontrei você. Olho para trás e vejo o moreno lindo e mascarado me encarando. Ele é ainda mais alto e forte visto de perto. Por alguns segundos, não consigo falar nada, de tão impactada que estou com sua presença. Quando a voz finalmente sai, é para formar o comentário mais estúpido do mundo. — Daqui a pouco as luzes vão se apagar, né? Grande, Petal. Não tinha nada mais brilhante para dizer? Paciência, posso botar a culpa nos dois goles de champanhe. Como se o universo conspirasse para me poupar de mais vergonha, naquele exato instante, as luzes se apagam de fato, mas não antes que eu veja novamente aquele sorriso sexy. — Temos algum tipo de bruxa aqui? — Ouço sua voz mais de perto agora. — Não, acho que feiticeira seria melhor. Só isso explicaria me fazer procurá- la pela festa inteira sem nem ao menos ter certeza se não está com alguém. — Eu não estou. Subi para fugir da festa — falo, antes que possa me parar. O que está acontecendo comigo? — Aqui em cima parece um programa bem melhor. — diz. — Não há nada aqui. — Tem você. E é o que eu quero hoje.
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