Capítulo 4 Petal

— Nossa, pela sua cara você parece que está a caminho de um enterro, não uma festa de bilionários — Phoenix diz. Olho para o vestido de seda cor de vinho em cima da cama, com certeza encomendado em alguma personal stylist[15] a mando do doutor Augustus, porque o bendito ficou certinho em mim. Ele tem um laço amarrado no pescoço e nada mais prendendo-o ao meu corpo. Tão colado que parece que foi cortado sob medida. Não sou tímida, mas ver meus quadris e bumbum tão marcados naquela roupa me deixa insegura. O tipo sexy não combina comigo. Faço o estilo casual fora do trabalho, até por falta de recursos mesmo — lá usamos um pretinho básico e scarpin, que é uma recomendação do RH[16] da empresa. Quando experimentei o vestido que ganhei do meu patrão, com uma máscara do mesmo tecido que esconde meus olhos e nariz, deixando ver apenas uma parte da bochecha para baixo, me senti como uma deusa. Olhei o nome da estilista na etiqueta e quando fui conferir os preços de suas roupas na internet tive um mini infarto. Eles começam em cinco mil dólares. Eu o devolverei com certeza. Deve ser possível ajustá-lo para outra funcionária caso haja uma situação de trabalho/festa como essa. — Estou ansiosa — confesso. — Conte uma novidade. — Sou muito ansiosa sempre, né? — Sim, muito, mas dizem que as mulheres de maneira geral são assim. Eu começo a rir. Só meu irmão para aliviar minha vida, mesmo. — Está mesmo empenhado em saber tudo sobre o universo feminino para poder ser um namorador no futuro, é? Ele concorda com a cabeça. — E também CEO. Não se esqueça dessa parte. Vou ser tão rico que esse vestido aqui — diz, pegando e colocando em cima da poltrona com todo o cuidado. — Você vai poder usar para fazer compras no supermercado. Sacudo a cabeça com os delírios do meu irmão e depois me jogo de costas na cama, olhando para o teto. Ele se deita ao meu lado. — O que há de errado, irmã? — Nada que eu deva compartilhar com você. Seu mundo ainda é encantado, Phoenix. Viva sua adolescência e deixe que eu cuido do resto. — Não sou mais uma criança. Ainda falta muito para me tornar um adulto, mas gosto de dividir as coisas com você. Viro-me de lado e olho para ele. — Sabe o que é? Hoje me dei conta de que às vezes eu nem percebo que dia da semana é. — Como assim? — Não estou reclamando. Você e titia são meu tudo, mas eu mal consigo me olhar no espelho. Nunca dá tempo de lavar o cabelo com mais cuidado, sair com amigos. Tenho vinte e um, mas me sinto com cem. — Por causa da nossa situação financeira? — Por tudo, eu acho. Estou sempre cansada. Muito cansada. Não sei o que é me divertir. Vejo as mulheres lá do trabalho conversando e elas parecem tão alegres e descoladas, sabe? Todo mundo sai às sextas para um barzinho e às vezes me chamam, mas eu me sinto desmotivada. Ao invés de um lugar cheio e barulhento, minha cama parece bem mais convidativa. Ele me encara como se fosse dizer alguma coisa, mas para no meio do caminho. — Manda. — Não quero te deixar triste. — diz. — O que é? — Acho que mesmo que você fosse rica, não saberia se divertir. É muito séria, irmã. — Pensei que essa fosse uma boa característica. — É você quem está reclamando de falta de diversão. — E como eu faria isso? — Eu não sei, mas posso te ensinar a fazer de conta. Quando estou preocupado porque você fica sem dinheiro para as compras, eu penso que já sou um CEO poderoso e posso resolver todos os nossos problemas com um piscar de olhos. Acreditar no futuro me acalma um pouco. Passo a mão em seu cabelo, que está um pouco longo demais. Faço uma anotação mental para levá-lo a um barbeiro na próxima semana. — Hey, eu não quero que fique ansioso por conta dos nossos problemas. Vai dar tudo certo. — Eu não consigo evitar. Quero ajudar e não sei como. — Basta que continue sendo esse menino maravilhoso, Phoenix. Você não me dá trabalho, pelo contrário, é meu incentivo para lutar. — Sou o melhor irmão caçula do mundo, então? Sorrio. — Algo bem próximo disso. — Nesse caso, acho que meus conselhos devem ser seguidos, senhorita. — E qual seria? — Brinque de fingir, como eu. Vá a essa festa e divirta-se. Não saberão que não é uma deles também. Faça de conta que é rica e chique. Amanhã pode voltar a ser minha irmã novamente, mas hoje, aproveite. — Será que não vai pegar mal porque de certo modo é uma festa do trabalho? — Estou falando da que vai ter depois. A do escurinho. Gargalho. — Não deveria discutir sobre essas coisas com você. — Por que não? Sou seu melhor amigo e quero te ver sorrindo. — Está certo. Depois que o baile de máscaras acabar, vou me divertir. Amanhã, tudo voltará ao normal e eu serei a mesma medrosa certinha de sempre. Horas depois Sorrio e aceno com a cabeça pela milésima vez quando alguém conta o que deveria ser uma piada. Acho que já fiz tanto isso nessa noite que vou acabar com dor muscular em volta da boca. A única vantagem é que li em um site que ginástica facial é bom para retardar as rugas. — Está se divertindo? — Meu empregador pergunta ao meu lado. Ele me pediu que, se alguma conversa relevante fosse iniciada, que eu tomasse nota mental e assim que pudesse, passasse para o bloco do meu celular para lhe enviar na segunda. — Hum... — respondo, porque tenho um problema sério no que diz respeito a honestidade. Não consigo mentir nem para salvar minha própria vida. — Não está? — insiste. — O lado positivo é que não era esse o objetivo do baile de máscaras, mas angariar fundos para sua instituição de caridade. Vim aqui como funcionária. Fiz uma refeição maravilhosa que nunca poderia pagar, então acho que nesse caso, diversão é superestimada. Ele dá um sorriso discreto, como se estivesse constrangido. — A partir de agora, considere-se liberada. Bonita como está, tenho certeza de que logo conseguirá se divertir na tal Noite Escura. — Não é errado? Quero dizer, por eu trabalhar para o senhor, não seria antiético que eu me divertisse como uma convidada comum? — Filha, a festa é de Lleyton. Repare que os meus convidados já estão partindo e essa é minha deixa para sair também. Ninguém depois dos trinta e cinco deve permanecer em uma festa de jovens. Vejo você na segunda.
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