Capítulo 9 Acordo Perigoso

A cela ficava a poucos passos da entrada da masmorra e, lá dentro, ela estava encolhida, dormindo feito um anjo. Puxando uma cadeira, ele se sentou enquanto a observava, a doutora devia estar realmente cansada para dormir daquele jeito num lugar como aquele, sem qualquer conforto. Mesmo dormindo, a sensação de ser observada era crescente, as pálpebras tremeram. Lívia abriu os olhos, a visão estava um pouco embaçada. — Buongiorno! — disse a voz rouca. — Dormiu bem? Lívia abriu mais os olhos e então reparou que Enrico não usava mais a faixa, os olhos concentraram-se no inchaço na testa do mafioso. Percebendo o olhar clínico da médica, ele passou a ponta dos dedos sobre o hematoma. — O médico da família disse que vou sobreviver. Ela desviou o olhar, ajeitou o corpo e ao se levantar e aproximou-se da grade. — Solte-me agora mesmo! — Exigiu. — Salvei você e cuidei dos seus ferimentos. Se há um pingo de gratidão em algum lugar nesse coração de pedra, você deveria me deixar ir! — A médica projetou o queixo, enfrentando o mafioso. Embora ele não recusasse diretamente, Enrico riu da ousadia de Lívia. A palavra gratidão não existia em seu dicionário pessoal. — A senhorita me salvou e, por isso, quero propor um acordo. — Não é desse jeito que as coisas funcionam, senhor Bianchi. — Disse o sobrenome dele em alto. — Então, a senhorita já sabe! Os empregados falam demais! Lívia afastou as mãos quando ele tentou tocá-la. — Seja boazinha, doutora Ricci! — fitou o rosto exausto de Lívia. — Você prefere escutar a minha proposta ou quer passar mais uma noite aqui? Era desse jeito que as coisas funcionavam no orfanato onde ela cresceu. Depois de passar um dia inteiro de castigo no guarda-roupa, sua cuidadora abria a porta e perguntava se ela estava pronta para pedir desculpas aos colegas ou se preferia ficar mais um dia presa dentro daquela caixa de madeira embolorada. Com os braços cruzados, ela alisou a pele arrepiada. Estava tentando se aquecer do frio. — O que você quer? — Ela torceu os lábios. — Vou deixar você sair daqui apenas sob uma condição… — Não vou contar nada à polícia, prometo! — Lívia interveio antes que Enrico terminasse de falar. Enrico passou as mãos no rosto, nervoso. Se Lívia abrisse a boca, seria o primeiro a caçá-la, sua família nunca aceitou traidores e delatores. — Você só vai sair daqui se casar comigo! — Enrico alterou o tom da voz para que ela o escutasse de uma vez por todas. Houve um longo silêncio entre os dois. Enrico esperava receber uma resposta rápida, mas Lívia apenas franziu o cenho enquanto apertava as barras de ferro. — Vai ao diavolo, maledeto! Lívia chegou a imaginar que Enrico poderia estar sob efeito de um surto, já que aquela proposta lhe pareceu extremamente estúpida e sem sentido. — A pancada que você levou na cabeça foi tão forte que comprometeu o seu cérebro? — Ela questionou com um ar de deboche. — Você só pode estar louco, Farabutto! Inclinando o torso, olhou para as mãos unidas. Esperou até que a médica se cansasse. Quando ela finalmente se acalmou, Enrico tornou a falar: — Será um casamento falso. — acrescentou em voz baixa para que ninguém ouvisse. Ela ainda refletia sobre a proposta do mafioso quando ouviu os passos de dois dos capangas que se aproximavam. Um dos homens falou algo que ela não compreendeu e Enrico apenas meneou a cabeça. — Já decidiu? — Manteve o olhar fixo em Lívia. — Preciso de um tempo para pensar em sua proposta. — Ela tentou ganhar tempo. — Poderia devolver o meu celular? — Pegue o telefone da doutora. — Enrico ordenou a um dos seguranças. — E se ela ligar para a polícia? — O capanga indagou. — Devolva imediatamente. — Deu a ordem aos berros. Por um momento, a médica se sentiu numa daquelas obras cinematográficas de Francis Ford Coppola. Nunca imaginou que, um dia, ela seria prisioneira do subchefe da máfia e que seria pressionada para aceitar um acordo perigoso. Ela olhou para o homem que retornou e entregou o aparelho telefônico para Enrico. — Abra! — O sottocapo ordenou ao subordinado. Lívia deu um passo atrás assim que Enrico entrou na cela, ele estendeu a mão e lhe entregou o celular. Mesmo se concordasse com a proposta, ela não saberia como enganar o mafioso para escapar, já que Enrico era extremamente forte e bastante inteligente. De olho na médica, o gângster se aprumou enquanto Lívia retornava a ligação perdida dos pacientes e pedia desculpas por sumir de repente. Ao se sentar, ela ergueu o rosto para o homem que ainda estava parado à sua frente. — Quero a minha privacidade de volta. Enrico lançou a cabeça para trás ao gargalhar do pedido inusitado da doutora. — Você poderia sair, por favor! — Não! — Balançou a cabeça de um lado para outro. — Tenho que ter certeza de que você não vai ligar para a polícia. Aquele homem exalava desconfiança. Ela não teve outra opção a não ser ceder. Continuou retornando as ligações perdidas de seus pacientes enquanto as grandes pupilas azuis de Enrico esquadrinharam a sua reação. Após terminar de falar com os pacientes, Lívia olhou para os dois homens parados do lado de fora, em seguida, ela perscrutou Enrico. — Posso usar o banheiro? — Depende! — Andou ao seu encontro e se sentou. — Aceitará a proposta ou prefere continuar presa nesse lugar? — Olhou em torno do cubículo. — Eu disse que preciso de um tempo para pensar, mas quero tomar um banho e tirar essa roupa suja. — Ela tocou a blusa branca que, naquela altura, já estava encardida. — Você já sabe o que precisa fazer. — Que diabos você quer? Pretende se casar com uma mulher suja ou me deixar trancada aqui, fazendo as minhas necessidades naquele balde? — A médica desafiou o mafioso. Enrico torceu os lábios, o cheiro de Lívia não era dos melhores, mas não queria dizer isso para a médica. — É assim que os gângsteres tratam as mulheres? — Ela olhou para os seguranças que trocaram olhares com o chefe, mas ficaram em silêncio. — Pensei que os mafiosos fossem mais religiosos e cuidassem bem de suas famílias. — Está bem! — Ele vociferou. A contragosto, permitiu que Lívia deixasse a cela para tomar um banho — Você vai se banhar no meu quarto e assim que terminar, voltará para a cela. — Preciso dormir um pouco, Enrico. Não dá para descansar num ambiente tão frio e úmido como esse. Dando um puxão em seu braço, levantou-a e trouxe-a para junto de si. Os olhos se encontraram por alguns segundos. — Vai fazer o que eu mandar! — disse entre os dentes. — Capiche? Lívia se limitou a concordar com a cabeça. Ao lado do mafioso, andando lentamente pelo corredor até a saída, os dois seguranças acompanharam o casal num silêncio. Ao entrar nos aposentos de Enrico, a médica ficou encantada com o requinte na decoração clássica e o tamanho do quarto. — O banheiro fica ali! — Apontou para a enorme porta branca do outro lado. A médica seguiu direto para o banheiro. Finalmente, ela poderia se livrar da sujeira e usar o banheiro sem medo de ser incomodada. — Onde pensa que vai? — Virou-se e encarou o homem que a seguiu. — Ora, ora! — Avaliou o rubor no rosto de Lívia. — Acho que a doutora nunca ficou nua na frente de um homem. — Estúpido! — Lívia tentou fechar a porta, mas Enrico impediu. — Você não vai entrar! Não permitirei que me olhe tomando banho só para satisfazer suas necessidades primitivas. — Se eu quiser me divertir, eu procuro uma puta. Elas fazem o que mando e não falam demais como você. — Ele alfinetou, deixando a médica ainda mais brava. — Aliás, as prostitutas apenas pegam o dinheiro quando terminam o serviço e não enchem a porra do meu saco, como você. — Está bem! — disse, resignada. — Pode me dar licença? — Ela olhou para a mão comprida que ainda segurava a porta. — Me dê o celular! — Enrico apontou para o bolso da calça da médica. Lívia esperava que o gângster tivesse esquecido desse detalhe. Ela enfiou a mão no bolso traseiro, retirou o aparelho telefônico e entregou para Enrico. Bateu a porta e trancou assim que ele se afastou. Encostou na porta, apertou os olhos respirando aliviada, finalmente, ficaria distante da vigilância constante daquele homem. A primeira coisa que avistou ao abrir novamente os olhos foi a enorme banheira vitoriana. Abriu a torneira antes de começar a se despir. Assim que jogou os sais de banhos, ela colocou um pé após o outro e se enfiou na água morna e espumosa, recostando a cabeça na beirada, fechou os olhos. A vida já era uma bagunça e como num passe de mágica, as coisas saíram do controle de maneira imprevisível, tudo estava acontecendo muito depressa e ela não teve tempo de processar tudo aquilo. Ela tinha certeza de que o seu cotidiano ficaria mais obscuro se aceitasse a proposta de casamento falso daquele mafioso. Poderia perder muitos clientes e, talvez, Enrico não permitisse a ela voltar e exercer a sua profissão. Não estava disposta a aceitar tal coisa, não mesmo! Exercia medicina por amor e, pelo menos isso, aquele gângster não poderia proibi-la de fazer. Ainda estava totalmente absorta em seus pensamentos quando os fortes golpes na porta fizeram com que Lívia se movesse rapidamente. As águas se agitaram formando pequenas ondas. — O seu tempo acabou! — Informou a voz grossa. — Eu ainda nem escovei os dentes, Enrico! — Você tem cinco minutos para sair desse banheiro ou vou jogar essa porta no chão e te levar nua para a cela. Lívia se pôs de pé às pressas. Tinha certeza de que Enrico não estava blefando. Enrolando a toalha em volta do corpo, pegou a primeira escova de dentes e creme dental que viu. Estava enxaguando a boca quando um forte estrondo fez a porta tremer. — Já estou indo! — falou na esperança de acalmar a fera que tentava arrombar a porta. Puxou a presilha dos cabelos, as mechas caíam em seus ombros feitos cascatas luminosas e deslizavam pelo colo de seus seios. Lívia girou a maçaneta. — Teria uma calça ou blusa para emprestar? Por mais que fosse durão, não podia negar que aquela mulher tinha um encanto sobre ele. Enrico ficou perturbado com sua beleza, ela estava ainda mais bonita com os cabelos soltos. — As suas coisas estão naquela mala! — Apontou para a bagagem ao lado da poltrona. — Quem trouxe? — Meus homens foram buscar. — Eles invadiram a minha casa? Isso é crime! — Sério? — indagou a voz cheia de ironia. — Vai contar a polícia? — Ele ergueu as sobrancelhas espessas enquanto aguardava a resposta. Conformada, Lívia andou pelo carpete até a sua mala. Pegou uma calça jeans azul e um casaco preto de moletom. — Tenho que me vestir! — Olhou para o mafioso. — Não estou te impedindo. — Ele retrucou. Lívia fez um muxoxo, ia até o banheiro, mas Enrico deu um passo para o lado, impedindo a sua passagem. — Vista-se aqui! — Poderia ficar de costas? Ele deu uma última olhada. Resistindo à vontade que sentia de arrancar aquela toalha, deu-lhe as costas. Através do espelho do guarda-roupa, ele espiou o reflexo da mulher de pele alva. Admirou os seios fartos e os mamilos com auréolas castanhas, o corpo tinha curvas como de uma guitarra implorando para ser tocada. Ele sentiu o membro pulsar, reagindo diante dos encantos daquela mulher. — Terminou? Ela vestiu o casaco e ajeitou na altura da cintura. — Estou quase acabando. — Virou-se para pegar a calça. Lívia nem mesmo se deu conta do olhar libidinoso, vestiu a calça tranquilamente e depois de fechar o botão, ela calçou os sapatos. — Estou pronta! — Espere aqui, preciso ir ao banheiro. — Não queria que a médica visse o volume rijo em sua calça. Lívia perambulou pelo quarto, não havia indícios de que alguma mulher, além dela, entrou naquele quarto. Ela abriu o enorme guarda-roupa de madeira e ficou impressionada com a coleção de ternos que Enrico possuía. Como Enrico estava demorando, Lívia vasculhou as gavetas para tentar encontrar o seu celular. Ela girou os calcanhares e, em seguida, avistou um armário com duas portas. Ao abrir, a médica recuou, havia diversas armas de fogo, facas e até mesmo granadas. Ela observou a Glock Hollow point, .480 Ruger e Super Redhawk, além das munições. — Caspita! — O que está fazendo? — Enrico gritou. Ele avançou para cima de Lívia e fechou a porta. — Não mexa nas minhas coisas. — acrescentou sem dar tempo para a médica se explicar. — Desculpe, eu só estava curiosa. — Pois saiba que a curiosidade matou o gato. — esbravejou. — Vamos! — puxou Lívia pelo braço. — Você disse que eu podia dormir um pouco. — Claro! Você pode descansar atrás das grades. — Não quero voltar para lá! — Ela se impôs e puxou o braço, desvencilhando-se de Enrico. — Você quer dormir comigo?
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Conteúdos
Capítulo 1 Prólogo Capítulo 2 O sottocapo da máfia Capítulo 3 A médica Capítulo 4 Presa com o gângster Capítulo 5 A invasão da clínica médica Capítulo 6 Você é minha médica Capítulo 7 A prisão fria Capítulo 8 O capo da máfia Capítulo 9 Acordo Perigoso Capítulo 10 Os termos do acordo Capítulo 11 O rival Capítulo 12 O pior paciente appCapítulo 13 Um sentimento de afinidade appCapítulo 14 Eu não dormirei com você! appCapítulo 15 Um gângster paranoico appCapítulo 16 Você é casada appCapítulo 17 Orgulhosa e ingênua appCapítulo 18 Uma espiã appCapítulo 19 Um pervertido appCapítulo 20 Eu não sou uma ladra! appCapítulo 21 Cooperação perfeita appCapítulo 22 A confusão no hospita appCapítulo 23 Não seja tola appCapítulo 24 Entre a vida e a morte appCapítulo 25 Um gângster apaixonado appCapítulo 26 Um beijo apaixonado appCapítulo 27 Eu cuidarei de tudo appCapítulo 28 Um traidor appCapítulo 29 Não precisa ter vergonha appCapítulo 30 Eu vou te proteger! appCapítulo 31 Ti amo, bella mia! appCapítulo 32 A moeda de ouro appCapítulo 33 Dominado pela paranóia appCapítulo 34 O homem furioso appCapítulo 35 Raiva e Desejo appCapítulo 36 A sede de vingança appCapítulo 37 O sequestro da médica appCapítulo 38 Estou grávida appCapítulo 39 Um teste de paternidade appCapítulo 40 Encontre a traidora appCapítulo 41 A magia do amor appCapítulo 42 Enganando o capo appCapítulo 43 Ela está morta appCapítulo 44 Para onde ela foi? appCapítulo 45 Um refúgio appCapítulo 46 Um vulto na janela appCapítulo 47 Não confio em você appCapítulo 48 Eu não te perdoo appCapítulo 49 Detalhes sórdidos appCapítulo 50 O confronto appCapítulo 51 Sou a sua filha! appCapítulo 52 Um acerto de contas appCapítulo 53 Aliados no amor e nos negócios appCapítulo 54 Trecho extra do livro Tudo Por Ela - Amor & Vingança app
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