Capítulo 5 A festa de aniversário dela
A vida de Lauren já estava em ruínas quando Elliot, enfim, decidiu se importar com seus estudos. Que ironia.
Ela dedicou dez anos à educação, movida pela esperança de reescrever seu destino. Mas justamente quando seus esforços estavam prestes a serem recompensados, ela descobriu que, diante do poder, sua luta era insignificante.
Com um simples comentário despretensioso, a família Bennett determinou seu fim, empurrando-a sem esforço para as profundezas do abismo.
Ela poderia ter trilhado um caminho brilhante.
Desde a infância até a fase adulta, jamais contou com o respaldo de uma família influente. Seu único apoio era sua dedicação inabalável aos estudos.
Seu maior sonho era entrar para a Universidade de Northcrest, seguir com mestrado e doutorado, tornar-se professora e, do alto de um pódio, usar seu conhecimento para transformar o destino de pessoas batalhadoras como ela.
Mas a realidade a golpeou com crueldade.
Ela não se tornou quem desejava ser. Ao contrário, virou uma criminosa desprezada, com um histórico que jamais seria apagado.
Uma marca que comprometeria três gerações.
Ao pensar nisso, Lauren cerrou os punhos com tanta força que as unhas perfuraram suas palmas — mas ela não sentiu nada.
“Escola Secundária Hoverdale First.” A voz de Lauren saiu suave, quase carinhosa.
Mesmo assim, esse nome pesou sobre David, Alice e Elliot como um fardo invisível, tirando-lhes o ar.
Afinal, a Escola Secundária Hoverdale First possuía os critérios de admissão mais rigorosos de toda Hoverdale.
Diferente da Escola Secundária Brightvale, uma renomada escola particular onde o dinheiro garantia a matrícula, a Hoverdale First valorizava somente o desempenho acadêmico.
Mesmo entre os melhores, Lauren se destacava como a número um da turma, ano após ano. Com seu histórico escolar, a entrada em Northcrest era apenas uma formalidade.
“Isso é mentira. Você está inventando isso!” As emoções de Elliot estavam à flor da pele. “A Hoverdale First fica nos arredores da cidade, a mais de vinte quilômetros daqui. Na época, você ia de bicicleta velha todos os dias…”
No meio da frase, Elliot parou. Algo havia lhe ocorrido. As palavras simplesmente travaram em sua garganta.
Enquanto via o sangue sumir do rosto do irmão, os lábios de Lauren se curvaram num sorriso amargo.
“Preferia pedalar por horas a ir para a escola com a Willow. E, de qualquer forma, nossas escolas nunca foram as mesmas. Eu nunca tomei café da manhã com vocês porque as aulas na Hoverdale começavam às seis. Acordava às quatro da manhã e pedalava duas horas só para chegar. Não voltava para casa no almoço — não havia tempo. Eu não tinha dinheiro para comer, então bebia água para enganar a fome até a noite. Quando finalmente voltava, você já tinha jantado. O que sobrava para mim eram restos frios — e mesmo assim, você zombava, dizendo que meu destino era patético, que eu merecia aquilo, como se fosse um espectro faminto devorando migalhas.”
“Laurie, me perdoa.” As lágrimas de Alice escorriam como contas soltas de um colar partido, acompanhadas de soluços angustiados. “Eu não fazia ideia de que você havia passado por tudo isso. A culpa é minha.”
“Não há do que se desculpar.” Lauren fitou o rosto encharcado de lágrimas da mulher com uma serenidade quase apática. “Você não me criou. É natural que não sinta nada por mim. Já estou acostumada. Um pouco mais de dor não faz diferença. Não é mesmo, Sra. Alice?”
Os soluços de Alice cessaram.
Laurie, eu te imploro. Você é mais forte que a Willow, é capaz de suportar as adversidades. Você se virou muito bem no orfanato, então acredito que conseguirá na prisão também. Por favor, assuma a culpa pela Willow.
Uma lembrança de cinco anos atrás invadiu a mente de Alice. Trêmula, segurava o peito como se fosse desmaiar.
Lauren a observava friamente, o desprezo evidente em seus olhos.
O local onde Willow empurrou Elaine escada abaixo tinha câmeras de vigilância.
Mas Alice havia apagado as gravações logo após o ocorrido — as provas que inocentariam Lauren nunca chegaram ao tribunal.
“Chega!”, disse Elliot, em tom indiferente. “Você continua amargurada. Sim, fomos negligentes. Mas e quanto à sua parte nisso tudo? Sempre invejou a vida da Willow. Quis puni-la e se vingar de nós. Seu coração é sombrio, e ninguém a suporta. Em vez de refletir, prefere nos acusar.”
“Elliot, não fale assim com sua irmã.” Alice fungava.
“Mãe, vai continuar defendendo ela? Está usando nossa culpa como arma. Se não fosse assim, não teria culpado Willow, nem empurrado Elaine, deixando-a em estado vegetativo. Cumpriu cinco anos de prisão e ainda carrega rancor, causando escândalo na frente de todos.”
O rosto de Alice expressou culpa. Ela lançou um olhar para Lauren e a viu observando-a com um sorriso sereno, como se já esperasse tudo aquilo.
Alice desviou os olhos, desconcertada.
“Chega, vamos encerrar isso.” David franziu a testa, a voz carregada de autoridade. “Laurie, por que não avisou que voltaria hoje? Teríamos preparado algo especial.”
Lauren ficou imóvel.
“Vocês não sabiam que eu seria liberta hoje?”
“Claro que não. Se soubéssemos, teríamos mandado um veículo. Laurie, como chegou até aqui?”
Lauren virou-se para Elliot, com o olhar indiferente e firme.
“Vim no carro do Sr. Elliot. Ele disse que vocês organizaram uma festa de boas-vindas para mim.”
“Festa de boas-vindas? Hoje não é o aniversário da Srta. Willow?”
“Sim, o convite dizia claramente que era o aniversário dela. Quando isso virou uma celebração de retorno de uma detenta?”
“Estão comemorando a volta de uma criminosa? Isso é absurdo.”
Os sussurros se espalharam entre os presentes.
O rosto de Elliot se contraiu de vergonha. Quis se explicar, mas nenhuma palavra saiu.
Lauren sentiu um gosto amargo. A piada era ela.
David e Alice se lembraram do aniversário de Willow, mas nem sequer notaram a data de sua libertação.
A ‘festa de boas-vindas’ mencionada por Elliot não passava de um detalhe irrelevante no grande evento de Willow.
Ela sentiu uma dor forte tomando conta do peito. O que eu esperava, afinal?
Ela não queria mais fingir. Sem olhar para trás, virou-se e foi embora.
De repente, uma pessoa de branco veio correndo em sua direção. Lauren tentou desviar, mas sua perna machucada a impediu de agir a tempo.
Tum!
O impacto a derrubou. Uma dor aguda atingiu seu cotovelo e perna.
Ela franziu a testa. Seu rosto, já pálido, ficou ainda mais pálido.
Quando conseguiu controlar a dor e ergueu o olhar, viu David, Alice e Elliot aglomerados em torno de uma garota vestida com um delicado vestido branco de plumas, todos aflitos ao redor dela.
“Willow, você está bem? Está sentindo alguma dor? Está ferida?”
Os olhos da garota se encheram de lágrimas, o rosto corado dava-lhe um ar frágil e comovente.
“Papai, mamãe, Elliot… está doendo…”
Imediatamente, a família Bennett entrou em pânico, checando cada detalhe.
“Willow, onde dói? A Lauren te machucou?”
Elliot, sem hesitar, virou-se para Lauren e gritou:
“Você não olha por onde anda?”