Capítulo 3 Cancelou sua mesada
A postura refinada e a elegância de Willow eram o resultado direto do dinheiro e dos recursos que teve à disposição.
Lauren, por outro lado, nunca teve nada.
A família Bennett jamais lhe ofereceu afeto ou apoio financeiro. Mesmo assim, ela era criticada por não possuir o mesmo charme e graça de Willow.
Até hoje, Lauren não compreendia por que haviam insistido em trazê-la de volta. Sua única função naquela casa parecia servir de contraste para que Willow, a filha adotiva, parecesse ainda mais querida.
Havia um velho ditado: ‘Aqueles que não são amados são os desconhecidos.’ Para Lauren, aquilo descrevia perfeitamente sua realidade.
Na época, essa injustiça a machucava. Agora, já não fazia mais diferença.
Ela revirou o depósito e encontrou apenas o antigo uniforme da escola — azul e branco.
Cinco anos antes, Lauren tinha sido aprovada na Universidade Northcrest, a mais prestigiada de Corwynale. Mas a família Bennett só celebrou quando Willow conseguiu entrar na faculdade.
Organizaram um grande banquete, reunindo a elite de Hoverdale.
Willow, com dezoito anos, foi o centro das atenções. Usava um vestido feito sob medida que custava uma fortuna, uma coroa de diamantes, e posava sob os holofotes ao lado dos pais adotivos.
Enquanto isso, Lauren, desajeitada e deslocada, parecia um estorvo — o patinho feio entre os cisnes.
Sob os olhares atentos da alta sociedade, ela foi levada pela polícia. Passou os cinco anos seguintes na prisão, longe da vida universitária que deveria ter sido sua.
Cinco minutos depois, vestida com o uniforme escolar, Lauren caminhava em direção ao salão de banquetes da Residência Bennett.
Durante o trajeto, as empregadas a observavam com curiosidade.
“Quem é ela? Por que está usando uniforme escolar?”
“Deve ser uma funcionária contratada só para o evento. Parece uma estudante fazendo bico.”
“O Sr. David e a Sra. Alice mimam tanto a Srta. Willow… Até chamaram o chef principal do Lavette Grand Hotel apenas para a celebração.”
“É mesmo.”
Um dos servos passou ao lado de Lauren e fez questão de adverti-la:
“O banquete vai começar. Vista o uniforme adequado e tome cuidado ao servir. Os convidados de hoje são pessoas importantes de Hoverdale.” Ele se afastou sem esperar resposta.
Lauren parou, sem vontade alguma de entrar no salão.
Elliot havia dito que os pais prepararam um jantar para recepcioná-la, mas não mencionou que haveria tantos convidados desconhecidos.
Ser libertada da prisão não parecia algo digno de celebração.
Será que realmente precisavam transformar tudo aquilo em um espetáculo público?
Cinco anos antes, ela foi algemada diante da elite de Hoverdale. Agora, queriam reunir as mesmas pessoas para aplaudir seu retorno — como se ela fosse algum tipo de atração.
Aquilo não era uma recepção, era uma humilhação. A angústia tomou conta de seu peito, acompanhada de uma raiva contida. Não querendo continuar ali, virou-se para sair.
Foi então que Elliot surgiu, e sua expressão ficou séria ao vê-la. Ele se aproximou com o olhar sombrio e voz carregada de frustração:
“Eu pedi para você trocar de roupa. Por que ainda está assim? Você tem ideia do tipo de evento que é esse?”
Lauren abriu a boca para responder, mas ele a cortou, impiedoso:
“Você já parecia um desastre quando saiu da prisão, e agora quer bancar a vítima na frente de todos? Está tentando fazer parecer que a família Bennett te tratou mal? Lauren, seus joguinhos continuam tão desprezíveis quanto antes. Você não tem mais salvação.” Enquanto falava, tentou segurá-la pelo braço, resmungando: “Vá se trocar agora. Chega de passar vergonha.”
Lauren se afastou a tempo. A mão de Elliot agarrou apenas o vazio. Isso só alimentou ainda mais sua raiva.
“Como ousa me evitar?”
Ela ergueu o olhar e o encarou como se estivesse diante de um inimigo.
Aquele olhar — frio, impaciente, repleto de desprezo — era o mesmo que ela suportou por três anos naquela casa.
Sempre que ela chorava, ele dizia que estava fingindo.
Talvez ela tivesse se acostumado. Ou talvez os cinco anos na prisão tivessem destruído o que restava de sua autoestima.
Agora, nem o desprezo dele era capaz de feri-la. Ela manteve a expressão serena, impassível.
“Eu não tenho um vestido.”
Elliot ficou ainda mais irritado.
“Então compre um!”
Lauren respirou fundo. Não importava o que dissesse, Elliot sempre interpretaria da pior forma.
Ela já tinha tentado explicar antes. Quanto mais falava, mais ele a chamava de mentirosa. Era exaustivo.
Então, disse apenas:
“Não tenho dinheiro.”
Ele franziu as sobrancelhas, incrédulo.
“Durante três anos, você morou aqui com todas as despesas pagas. Depositamos 70 mil na sua conta todo mês. Isso soma 2,5 milhões! Agora vem dizer que não podia comprar um vestido? Está fazendo isso de propósito, só para parecer maltratada! Lauren, você é egoísta demais. Já fizemos mais do que o suficiente por você. Se continuar assim, vai acabar sendo apenas ridícula.”
Lauren não se surpreendeu. Sabia que não adiantava argumentar. Ela o encarou diretamente.
Por alguma razão, sob aquele olhar firme, Elliot sentiu um leve desconforto.
“Por que está me olhando assim? Eu não disse nada de errado.”
Será que ele realmente acreditava nisso?
Lauren soltou uma risada fria e contida. Não queria causar um escândalo. Mas as acusações dele despertaram algo dentro dela. Pelo canto do olho, viu algumas pessoas se aproximando. Se era confusão que queriam, ela não fugiria. Sua dignidade já havia sido destruída. Não tinha mais nada a perder.
Mas Elliot, que valorizava tanto a própria imagem, não suportaria se fosse exposto.
“Eu nunca recebi um centavo da empresa. Nem setenta mil, nem sete. Sr. Elliot, se vai me acusar, pelo menos invente uma mentira que faça sentido.”
A expressão de Elliot ficou ainda mais séria.
“Você simplesmente não desiste, não é? Tudo bem. Não me culpe quando eu provar o contrário.” Ele tirou o celular do bolso e ligou para o setor financeiro, colocando no viva-voz. “Verifiquem quanto dinheiro foi transferido para a conta da Lauren mensalmente.”
A voz do outro lado hesitou:
“Lauren? O senhor quer dizer a Sra. Bennett?”
“Sim.”
“Sr. Elliot, se estiver se referindo à Sra. Bennett, não há nada para verificar.”
Elliot franziu a testa.
“O que quer dizer com isso?”
“Bom… Nunca transferimos dinheiro algum para a conta da Sra. Bennett.”
Ele ficou em choque.
“Isso é impossível.” Lauren pode não ser a preferida, mas, ainda assim, era parte da família. Como ela não teria recebido mesada?
Na noite em que ela chegou, ele havia discutido com os pais para garantir que ela fosse tratada com igualdade.
“Dei essa ordem pessoalmente.”
“Sr. Elliot, talvez o senhor não saiba… A Sra. Alice comentou que a Sra. Bennett veio de um orfanato e tinha um senso de julgamento duvidoso. Por receio de que ela se envolvesse com pessoas erradas, decidiu que seria melhor não dar mesada alguma. Como ela ainda estava no ensino médio e não tinha grandes despesas, a Sra. Alice optou por cancelar os repasses.”
O mundo de Elliot girou.
Sem mesada… Isso significava que, durante três anos, Lauren viveu ali sem receber absolutamente nada.
“Ah, e a Sra. Alice também dobrou a mesada da Srta. Willow para 140 mil por mês. Disse que queria evitar que Willow se sentisse deixada de lado. Então, os 70 mil extras serviram como compensação. O senhor sabia disso, não sabia?”
Elliot sentiu como se tivesse levado um soco.
Ele não sabia.