Capítulo 11 Memória fotográfica
Depois que Stella saiu furiosa, comecei a trabalhar.
Tornar-me uma Alpha tinha aprimorado todos os meus sentidos. Minha memória, que já era impressionante, agora conseguia reter tudo o que via e lia. Depois de dar uma olhada rápida nos arquivos, entendi os dados que precisava inserir e comecei a tarefa.
O processo era chato, mas não representava nenhum desafio para mim. Peguei o jeito rapidinho, e minha velocidade só aumentava conforme avançava.
O barulho rápido dos meus dedos no teclado logo chamou a atenção de alguns colegas. As vozes abafadas deles chegaram aos meus ouvidos, e não pude evitar de escutar os comentários.
“Você viu como ela está digitando rápido? Eu achava que era rápido, mas não consigo acompanhar ela.”
“Pensei que alguém de um lugar rural como ela não saberia muito sobre trabalho de escritório, mas ela é bem eficiente, na real.”
“É, percebi. Ela é bem organizada também. Ouvi dizer que tá noiva do Sr. Holbrook. Se o Alpha Richard aprova, ela deve ter algum valor.”
“E daí? Você reparou que o Sr. Holbrook nem dá bola para ela? Logo, logo ela vai sumir. Mexeu com a Sra. Dixon, e agora tá afundada nesse monte de trabalho. Aposto que é só o começo. Os dias dela aqui não vão ser nada fáceis.”
“Que seja. Não é da nossa conta. Melhor não se meter e arrumar problema.”
Os sussurros deles eram como um ruído de fundo enquanto me concentrava na minha tarefa.
...
Ponto de vista da Stella:
No começo, não estava muito afim de ajudar a Wendy a lidar com a Rosaline. Por mais que não gostasse dela, ela ainda era a noiva do Sr. Holbrook. Mas depois de ver ela me pisando sem nenhum respeito, qualquer culpa que tinha sumiu.
Rosaline era só uma Ômega do extremo norte do Continente dos Lobisomens. Não entendia como ela podia ser tão arrogante. A atitude dela era o suficiente para qualquer um detestar ela.
Mas ela é uma idi*ta. O volume de trabalho que passei para ela hoje era impossível de terminar no prazo, mas ela não reclamou. Isso me pegou desprevenida.
Quando o expediente acabou, fui checar o progresso da Rosaline, mas, para minha surpresa, vi ela saindo do refeitório, parecendo totalmente relaxada.
Bati a mão na mesa e gritei: “Rosaline! Por que está andando por aí? Terminou o trabalho? Disse que esses dados tinham que estar prontos hoje porque são necessários para amanhã. Como você ousa jantar antes de terminar? Vai assumir a responsabilidade se o seu atraso causar algum prejuízo pro Grupo Eclipse?”
Ela deu de ombros, sem se abalar. “Você disse que tinha que estar pronto hoje. Ainda nem são sete horas. Sei o que estou fazendo.”
Fiquei chocada com a confiança dela. “Não venha com conversa fiada aqui. Nem te vi trabalhando por tanto tempo assim...”
Ela me interrompeu, acenando com a mão em sinal de desprezo. "Chega! Guarda suas reclamações para amanhã, caso eu não termine. Por enquanto, me deixa em paz. Tenho que trabalhar, e você está me atrapalhando. Se não conseguir terminar, a culpa vai ser sua."
Fiquei furiosa. Essa caipira realmente não tinha vergonha na cara. Bem, se ela achava que ia se safar assim, estava muito enganada.
Eu ia fazer ela se arrepender.
Quando todo mundo fosse embora, ia arrumar uma tarefa mais “divertida” para ela.
Vamos ver quanto tempo ela aguentava antes de implorar por piedade.
...
Ponto de vista da Rosaline:
Às nove e meia da noite, finalmente terminei o último arquivo, apertando a tecla final no teclado. Me espreguicei, me sentindo satisfeita.
Para uma Ômega comum, esse trabalho seria exaustivo, e provavelmente levaria até meia-noite para terminar. Mas para mim, uma Alpha, era moleza.
Estava prestes a arrumar minhas coisas e ir embora quando o telefone tocou. Era a Stella. Na hora certa.
“Quanto tempo falta para terminar?”, ela exigiu saber.
“Tudo pronto”, respondi.
“Quê? Tem certeza que revisou tudo direitinho?” Stella parecia surpresa.
Enviei os arquivos concluídos por e-mail, e houve uma longa pausa do outro lado da linha.
“Se não tem mais nada, vou embora agora.”
“Não! Você não pode ir embora ainda!” Stella gritou de repente.
“Por quê?”
“O trabalho que você fez agora tem a ver com a organização do armazém. Você precisa cuidar disso também.”
Levantei uma sobrancelha. “O que isso tem a ver com o trabalho que eu fiz?”
“Sem perguntas! Acabei de ser notificada que os dados do armazém precisam bater com o que você inseriu. Você não pode sair até terminar isso.”
Parei por um instante e concordei. Era apenas trabalho físico, e se eu me transformasse em lobo, não teria dificuldade nenhuma. Já fazia tempo que a Freya não esticava as pernas. Além disso, não custava nada entender melhor como funcionava a operação interna do Bando Eclipse.
Seguindo as instruções da Stella, fui pro armazém do Grupo Eclipse.
À meia-noite, eu estava parada diante das enormes portas do armazém, com o ar gelado mordendo minha pele. Digitei o código de acesso, e as portas pesadas se abriram lentamente, rangendo de forma sombria.
Entrei, e as portas de aço se fecharam atrás de mim com um baque.
Mas assim que entrei, meu nariz captou um cheiro que fez meus instintos de lobo dispararem.
Lá no fundo, Freya rosnou em alerta.
Era acônito!