Capítulo 1 Conhecendo os Holbrooks
Ponto de vista de Rosaline:
Meu nome é Rosaline Sinclair. Tenho 20 anos, sou uma lobisomem e a Alpha da Alcateia Sombra.
Isso mesmo, você leu direito sou uma Alpha, uma das raras Alfas mulheres no Continente dos Lobisomens.
Há pouco tempo, a Alcateia Sombra figurava entre as mais poderosas do continente. No entanto, desde o meu nascimento, meu avô decidiu nos levar para o isolamento em Frostmoore, a região mais ao norte de todas. Segundo ele, foi lá que surgiu o primeiro rei lobisomem de nossos antepassados Frostmoore era, para ele, a verdadeira terra natal da nossa linhagem.
Frostmoore fica bem longe dos centros agitados do continente, e, com o passar dos anos, o mundo lá fora foi sabendo cada vez menos sobre nossa matilha. Fora nós, nenhuma outra matilha sabe que herdei o posto de Alpha de Hubert Sinclair, meu avô.
Meus pais morreram quando era pequena. Eles foram vítimas das guerras territoriais entre as matilhas maiores. Desde cedo, sabia que proteger a Alcateia Sombra seria minha missão para vida toda.
Por sorte, a Deusa Luna me abençoou com um corpo forte e ágil. Comecei meu treinamento de lobisomem aos seis anos, e minhas habilidades logo superaram as dos meus colegas.
Assim que consegui controlar minha loba, meu avô não perdeu tempo e passou o título de Alpha para mim. Disse que estava cansado e pronto para se aposentar, para curtir uma vida tranquila.
Normalmente, cuidaria dos assuntos da matilha na Alcateia Sombra, mas aqui estou eu, parada na estação de trem de Rivemon.
É quase cômico. Só depois que virei Alpha, meu avô me contou sobre um casamento arranjado que eu não podia recusar. O noivo? Ninguém menos que Caden Holbrook, o primeiro herdeiro da Alcateia Eclipse.
“Só três meses”, meu avô implorou.
"Por favor, só por três meses. Você pode fazer isso por mim? Tente entender. Se algo acontecer comigo e o seu companheiro destinado não for forte o bastante, aqueles anciãos vão te dar uma dor de cabeça enorme. Foi por isso que organizei esse casamento com a Alcateia Eclipse há dezoito anos."
Protestei. “Vô, todo mundo na matilha me respeita. Quem ousaria me desafiar sendo eu a primeira Alpha mulher da Alcateia Sombra?”
Meu avô sabia o quanto eu era forte. Ele mesmo disse que meu poder superava o do meu pai.
Mas, claramente, a morte dos meus pais abalou a confiança dele na continuidade do nosso legado familiar.
Em vez de deixar a Deusa Luna escolher meu companheiro destinado, meu avô preferiu encontrar um Alpha forte, de uma matilha influente, para me dar apoio. Na visão dele, isso me prepararia melhor para lidar com os conflitos internos da matilha e proteger nosso povo ao invés de carregar esse peso sozinha.
“Você pode voltar se não sentir nada por esse garoto dos Holbrooks depois de três meses. Aí a gente desfaz o noivado”, ele disse.
Eu aceitei, não só por dever, mas também porque me preocupava com a saúde do meu avô. Depois que ele me passou o comando, os poderes dele enfraqueceram, e o corpo começou a ceder. Não queria que ele continuasse se desgastando por minha causa. Três meses não eram grande coisa, eu poderia aguentar.
Assim que desci da plataforma com minha mala, notei várias pessoas olhando na minha direção.
Me vesti da forma mais simples possível camiseta branca, jeans e o cabelo cacheado preso com uma faixa. De propósito, reprimi a aura poderosa de Alpha da minha loba, Freya, tentando passar por uma Ômega.
Mesmo assim, minha beleza não dava para esconder.
“Com licença, é a senhora Sinclair, da Alcateia Sombra? Bem-vinda a Rivemon. Sou seu motorista, enviado pela Alcateia Eclipse.”
Assenti. Parecia que a Alcateia Eclipse não dava muita importância à sua “futura Luna”, mandando só um motorista para me buscar. Tudo bem por mim, queria manter um perfil baixo e esconder minha força.
Tudo que queria era sair desse casamento arranjado o mais rápido possível.
Segui o motorista até o carro, e, enquanto saíamos da estação, senti os olhos dele me encarando pelo retrovisor.
Fechei os olhos, sabendo que era natural ele estar curioso. Apesar de parecer uma Ômega de baixo escalão, estava ali para ser a Luna da Alcateia Eclipse.
A Alcateia Sombra era poderosa, mas as matilhas ao redor sempre nos observavam de perto.
Mesmo que minha estadia aqui fosse breve, ninguém precisava saber que a Alpha estava longe da nossa matilha. Por isso, meu avô fez questão de que mantivesse minha identidade em segredo. Tirando Richard Holbrook, o Alpha atual da Alcateia Eclipse, ninguém ali sabia quem eu realmente era.
Caden, o primeiro herdeiro da Alcateia Eclipse, era um prodígio de 20 anos que gerenciava os negócios da matilha com uma habilidade impressionante, transformando tudo que tocava em sucesso em menos de um ano.
Mas, assim como eu, ele provavelmente nunca imaginou que o pai Alpha dele tinha arranjado um casamento com uma garota do interior, vinda do longínquo Frostmoore.
O motorista deve ter notado minhas roupas simples, porque o vi balançar a cabeça em desaprovação.
Como Alpha, com os sentidos aguçados, eu sabia exatamente o que ele estava pensando. Provavelmente me via como mais uma qualquer da família Sinclair da Alcateia Sombra. Devia achar que eu era uma espécie de Cinderela tentando se casar com uma família rica, sem a menor noção dos desafios que me esperavam no mundo dos Holbrooks.
Dei de ombros para esse julgamento e mandei uma mensagem pro meu avô. A resposta veio na hora: “Tá bem.”
O carro logo parou na Mansão Holbrook. O motorista me ajudou com a mala, e seguimos até a porta da frente, só para sermos parados por uma mulher na entrada.
Ela me mediu com desdém.
O motorista baixou a cabeça na mesma hora. “Senhora Holbrook, ela é...”
“Laura”, a mulher interrompeu, a voz cheia de desgosto.
“Sim, Senhora Holbrook.”
Laura, a governanta, segurando uma garrafa de desinfetante, começou a me borrifar da cabeça aos pés.
Eleanor Holbrook, ao lado dela, acrescentou friamente: “Não esqueça dos sapatos e do cabelo tudo precisa ser higienizado.”
Não precisava ser um gênio para entender. Eleanor era, com certeza, a mãe do Caden, e parecia estar tentando me intimidar, eu, a futura nora dela.
Um cheiro forte e químico tomou o ar, e eu instintivamente protegi o rosto com a mão. Encarei Eleanor e disse: “Vocês tão doentes.”
A expressão dela azedou na hora. “Como era de se esperar de uma caipira de Frostmoore. Que grosseria. Estamos preocupados que você possa estar carregando acônito. E se você machucar alguém da família Holbrook?”
Eu sabia que esconder minha aura de Alpha e fingir ser uma Ômega era a jogada certa. A reação dela provava isso, ela era só uma mulher fútil, obcecada por status.
Não gostou da minha atitude? Beleza, também não gostei da dela.
“Talvez você devesse borrifar desinfetante na sua boca também. Está fedendo...”, falei, passando por ela para entrar.
Atrás de mim, ouvi Eleanor engasgar: “Você!”
“Senhora Holbrook, por favor, não se chateie por causa de uma caipira como ela”, ouvi Laura dizer, tentando acalmá-la rapidinho.
Entrei mais na casa e quase trombei com uma garota bloqueando meu caminho. Ela tinha mais ou menos a minha idade, vestida dos pés à cabeça com roupas de grife caríssimas, e os olhos brilhavam com uma desaprovação gélida.
“Então, você é a Rosaline, da Alcateia Sombra? A que supostamente vai ser a Luna do Caden?”, perguntou, a voz pingando desdém. “Como assim você é uma Ômega?”
Ela aspirou o ar e, em seguida, lançou um olhar ainda mais cheio de desprezo paras minhas roupas. “Nossa, que gosto péssimo do vovô. Fiquei sabendo que você veio de trem. Se a gente soubesse, podia ter comprado uma passagem de avião para você. Mas acho que Frostmoore nem tem aeroporto, né?”
Ela deu uma risadinha, se achando toda.
A encarei, sem me impressionar. Devia ser Queenie Holbrook, prima do Caden. Só alguém tão sem noção quanto ela ousaria criticar o julgamento do Alpha Richard.
Todo mundo na Alcateia Eclipse é assim tão arrogante?
No caminho para cá, já tinha pesquisado tudo sobre Rivemon e a Alcateia Eclipse. Mas, pelo jeito de Eleanor e Queenie, ficava claro que essa matilha recém-ascendente não sabia nada sobre a Alcateia Sombra.
Comprar uma passagem de avião para mim? Por favor. Eles têm ideia de quem eu sou?
Eu tenho três jatos particulares.
Só peguei o trem para manter o perfil baixo, embora meu avô tenha alugado um trem inteiro para mim viajar com conforto.
Duvido que alguém consiga imaginar o prazer de ter um trem todinho só para mim. Durante a viagem, até me transformei em loba e deixei a Freya correr livre pelos vagões vazios.
Não me dei ao trabalho de perder tempo falando com Queenie. Peguei minha mala e subi as escadas sem dizer mais nada.
Atrás de mim, ouvi passos. Freya me disse que era Queenie, e ela estava me fuzilando com raiva porque seu orgulho ficou ferido por ser ignorada.
“Cadê meu quarto?”, perguntei a um dos empregados.
Antes que o empregado pudesse responder, Queenie se adiantou e falou.
“Aqui mesmo”, disse ela, abrindo a porta. “Aposto que você nunca ficou num quarto tão grande e chique antes. É melhor aproveitar bem o tempo na Alcateia Eclipse. Sou a Queenie, prima do Caden. É bom você ser legal comigo. Vai que, quem sabe...”
Antes que ela terminasse, simplesmente entrei no quarto e bati a porta atrás de mim. O barulhão fez ela pular, e por pouco não se transformou.
“Ah! Como uma caipira como ela ousa ser tão arrogante? Só quero corta-la em pedaços. Que gosto horrível o vovô tem, sério?”
Encostei na porta, segurando o riso enquanto ouvia as reclamações de Queenie lá fora.
Acha que pode me machucar?
Você é uma Beta, uma Beta qualquer. A Freya te despedaçaria com um único golpe das garras.