Capítulo 8 A única solução
Quando Paolo ameaçou sair do carro, Luísa recuou rapidamente. Seu tamanho reduzido fazia com que o sobretudo dele parecesse um vestido em seu corpo franzino. Ele jamais imaginou que um dia gostaria de ver uma mulher usando sua roupa daquela maneira.
— Você quer voltar para a prisão? — indagou em tom seco, quase brusco.
A ameaça velada a fez parar imediatamente, os ombros tensos e o olhar hesitante denunciavam sua relutância. Respirou fundo, como se tentasse reunir coragem, mas permaneceu imóvel, o medo evidente em sua postura retraída. A experiência de uma noite na cadeia aparentemente não havia sido tão suportável quanto ela talvez tivesse previsto.
— Entre logo! — ordenou entre dentes, esforçando-se para conter a raiva e não deixar que seu estresse explodisse sobre ela.
Sem replicar, ela se acomodou na poltrona. Moveu-se um pouco para o lado, criando mais espaço entre os dois, e suspirou profundamente, exausta. Manteve o olhar fixo no chão.
Ele observou o rosto amedrontado dela e, em seguida, seus olhos pousaram em sua mão esquerda. Quando ela se sentou ao seu lado, ele notou o detalhe que chamou sua atenção: o dedo de Luísa estava sem a aliança.
Vez ou outra, ela o olhava de soslaio até reunir coragem para perguntar:
— Eu já fui prostituta?
O motorista segurou o riso quando o Don Morano lhe deu um olhar severo.
— Não que eu saiba,
— Uma detenta me conhecia e disse que já passei uma noite com o senhor.
— Por que tanta curiosidade? — Ele indagou, inclinando a cabeça ligeiramente.
— Eu não entendo o motivo de você estar sempre por perto, me salvando. Esta é a segunda vez que você me tira de uma enrascada! — Ela ergueu o rosto, revelando as marcas arroxeadas que contornavam seus olhos e se espalharam pelas saliências de suas maçãs do rosto.
— Onde você arrumou esses machucados? — Com intuito de mudar o assunto, Paolo perguntou com uma ponta de severidade.
— Eu caí! — respondeu, apressada.
Ele sabia que ela estava mentindo, mas decidiu não a confrontar imediatamente. “Será que ela pensa que pode me enganar por muito tempo?”, refletiu, contendo um suspiro impaciente. Observou-a de relance, notando como seus dedos inquietos demonstravam o desconforto.
— Você acha que sou algum idiota? — replicou, estreitando os olhos. — Você usou a minha pistola!
— Foi a única forma de…
— Você não devia ter usado a minha arma! — Interrompeu, elevando o tom de voz até que ficou rouco.
Ele reprimiu o impulso de continuar, tentando não descarregar sua frustração completamente. Virou-se para o outro lado e passou a mão pelo queixo, deixando um momento de silêncio se instalar entre os dois.
— Desculpa, Don Morano! — pediu, a voz trêmula.
Seu olhar voltou a se fixar nos hematomas do rosto dela. Paolo sentiu o sangue fervilhar ao analisar cada marca roxa em sua pele delicada.
— Preciso ir até minha antiga casa para buscar o meu filho — ela comunicou e então abaixou os olhos para as mãos que descansavam sobre as pernas.
— Leve-nos para Japigia. — Paolo ordenou ao motorista.
“Como ele sabe onde moro?” Luísa estava perdida em devaneios. “Por que um capo da máfia se interessa tanto por mim?” A sua mente continuou tentando encontrar as respostas.
Para ela, era difícil lidar com as memórias perdidas. Não tinha sequer recordações daquele belo homem que sempre estava por perto quando ela precisava. Embora algumas peças em suas memórias estivessem espalhadas, nenhuma trazia qualquer evidência da noite em que ela passou com o mafioso.
A Lamborghini estacionou diante da pequena casa em Japigia. Assim que ele abriu a porta para ela, Luísa desceu do carro. Apesar de não compreender as razões por trás da ajuda daquele homem, optou por não questionar mais. Notou que algumas vizinhas olhavam para eles e cochicharam.
Paolo era um homem que dificilmente passava despercebido. Alto, medindo pouco mais de um metro e noventa, exibia um porte atlético que o terno sob medida destacava com perfeição. Seu rosto angular, marcado pelo maxilar definido, era complementado por uma aura de autoridade inata.
— O senhor pode me esperar aqui? — Luísa pediu em tom educado antes de se aproximar da porta.
— Vou ficar aqui na calçada. — Paolo retrucou com veemência.
Ignorando a hostilidade evidente, Luísa girou sobre os calcanhares e foi direto para a casa onde morava. Antes de tocar a campanhia, Marcos abriu a porta.
— Trouxe o seu amante, sua vadia? — acrescentou, dirigindo a ofensa a Luísa.
Paolo ergueu o queixo e deu um passo à frente, o seu olhar gélido fez o outro homem retroceder alguns passos instintivamente.
— Por favor! — pediu Luísa, posicionando-se entre os dois. — Deixe-me falar com ele a sós!
Paolo hesitou, mas acabou concordando.
— Vou quebrar a cara dele se fizer alguma gracinha outra vez, — o capo advertiu, encarando Marcos.
Ela se afastou de Paolo e, ao olhar para dentro da casa, viu sua meia-irmã usando uma de suas camisolas.
— Fale logo, o que veio fazer aqui? Quer me dar outro tiro… — passou a mão no braço enfaixado.
Mesmo distante, deu para escutar a risada rouca de Paolo. Don Morano seria capaz de fazer muito pior se Luísa quisesse se vingar.
— Deixe-me levar o Enzo.
— Você não tem onde morar… — Marcos retrucou, cruelmente. — Nenhum juiz vai dar a guarda para você.
Ela sentiu a culpa pesando sobre si novamente. Sabia que ele usava o filho para feri-la.
— A Fiorella quer me ajudar a cuidar do Enzo.
— Ela vai mandar o Enzo para o orfanato. — Luísa rebateu, exasperada.
— É só por um tempo.
— Você não vai tirar o meu filho de mim — respondeu Luísa, mantendo a calma, mesmo diante da dureza no tom de Marcos.
— Vou ligar para a polícia se você se aproximar da minha propriedade outra vez. Adeus, Luísa!
O seu olhar se deteve pela janela da sala na esperança de ver o filho, mas Fiorella fechou as cortinas. Ela suspirou profundamente e encarou o mafioso encostado no carro de luxo. Resignada. Luísa foi na direção do homem que já a aguardava.
— Existe outra forma de lidar com isso — comentou após um longo silêncio, mantendo o olhar nela. — Posso fazer com que seu ex desapareça do mapa ou você pode assinar o contrato que te ofereci. — Abriu a porta do banco carona.
— Essa é a única solução que vejo agora — disse ela, cruzando os braços, como se tentasse se proteger. — O senhor quer que eu apenas toque piano ou vai exigir algo mais?
Paolo não respondeu imediatamente. Em vez disso, recostou-se no banco, pensativo, enquanto o carro deslizava pelas ruas da cidade. Podia sentir Luísa lhe dando um olhar enviesado enquanto aguardava por uma resposta.