Capítulo 4 Uma sinfonia de amor perigosa
— Os rapazes querem se divertir um pouco, gata! — O grandalhão tocou suas costas.
De repente, um Porsche se aproximou e diminuiu a velocidade.
— Deixem ela em paz. — A ordem veio do homem que estava no carro de luxo.
Gradualmente, os homens recuaram após acatar a ordem do chefe.
— Pianista, entre no carro. — O desconhecido falou.
Como todos naquele bairro sabiam que ela tocava piano? Ela se perguntava enquanto alargava os passos para fugir do carro que a acompanhava.
— Se eu for embora, não vou voltar para impedir que aqueles caras ataquem você… — Paolo a advertiu. — Venha logo, Luísa! — A pouca paciência que tinha exauriu.
— Como sabe o meu nome, senhor? — Estagnou na calçada e fitou o homem com a mandíbula quadrada.
— Todos aqui já te viram tocando piano.
Os lábios de Paolo se mexeram, mas ele não se pronunciou. Tinha poucas semanas que voltou ao país e tudo o que sabia era que a pianista se casou e teve um filho.
— Pare de se fazer de rogada e entre na porra do carro. — Tirou os óculos escuros quando estacionou.
— Não te conheço. — Ela retrocedeu alguns passos, assustada.
— Sou Paolo Morano, o capo desta cidade. — Ressaltou. — Se decidir ficar aqui, não vou poder te salvar.
Olhando de soslaio, Luísa teve um rápido vislumbre dos homens que haviam implicado com ela há pouco. Ela deu alguns passos até o Porsche e entrou.
— Tive duas reuniões extenuantes hoje, — ele puxou conversa enquanto ela se acomodava no banco ao lado. — Estou indo para o escritório no meu Pub. Lá tem um piano e, se você quiser, pode tocar…
Os assuntos não surtiram efeito, já que Luísa continuava quieta.
— Quem fez isso com você? — Paolo estreitou o olhar quando viu a marca levemente roxa em seu rosto. — Foi o seu marido? — Ele tentou tocar em sua bochecha, mas parecia um bichinho acuado quando se encolheu no banco.
— Minha irmã. — Suspirou ao lembrar da traição.
A mão dele começou a abrir e fechar no volante. Já sabia o motivo da briga entre as irmãs, mas fez um esforço para suprimir a vontade de se intrometer naquele assunto de família.
__________
Quando saiu do escritório no Pub, o homem alto ajeitou as lapelas do blazer preto ao descer as escadas e seguir o som da música clássica que preenchia o ambiente. Os olhos dele acompanharam os da garota, que abaixou o rosto rapidamente, quebrando a conexão. Luísa passou os dedos pelas teclas e continuou tocando Nocturne em ré menor Op. 9 de Frédéric Chopin.
Paolo observou o copo vazio sobre o piano. Um garçom encheu o copo dela novamente. Quando terminou de tocar, ela tomou a bebida de uma vez, sentindo o líquido queimando em sua garganta.
— Quantos copos ela já bebeu? — Olhando para o garçom, Paolo indagou.
— Metade dessa garrafa, Don Morano. O funcionário exibiu o Whisky Hennessy XO.
Inesperadamente, Paolo voltou a olhar para a mulher que começou a tocar a mesma canção do dia em que eles se conheceram, mas desta vez, ela estava desafinando.
— Pare de servir esse uísque, ela está bêbada.
— Sim, senhor! — O garçom se retirou.
Paolo continuou sentado na cadeira. Apenas ele estava assistindo à performance da pianista bêbada.
— Licença, Don Morano, tenho que voltar para casa — disse Luísa após tocar a última música no bar.
Enquanto contemplava a carranca sombria, reparou na maneira como Paolo tocava no lóbulo da orelha. O filho dela fazia o mesmo quando era contrariado.
— Você não vai a lugar algum, bella mia! — O rosto dele endureceu.
— Não posso ficar, senhor, o meu filho está me esperando — ela falou, temerosa. — Por favor, deixe-me ir.
Após anos procurando pelo grande amor de sua vida, ele a encontrou, mas Luísa parecia não se lembrar dele. Talvez fosse por isso que ela seguiu em frente e construiu uma família com outro homem.
— A partir de hoje, você tocará piano só para mim — ressaltou com possessividade.
O mafioso se recusava a deixá-la sair de sua vida outra vez.
Ela empurrou a cadeira com o peso do corpo, ficou em pé, mas cambaleou. Antes que tombasse no chão, Luísa foi amparada pelos braços fortes de Don Morano. Havia recebido a proposta para ser a pianista do mafioso, mas existia uma voz intrusiva em sua mente que insistia para que ela não se envolvesse em uma sinfonia de amor perigosa.
— Venha, vou te dar uma carona! — Pegando-a no colo, ele a carregou por entre as mesas espalhadas do bar até o Porsche. — Vou te levar para casa, amore mio.
No meio do caminho, o olhar escrutinador avaliou a mulher adormecida no banco ao seu lado e tocou no rosto oval com traços delicados. O dedo indicador deslizou pela marca vermelha. Recolhendo a mão, Paolo pôs no volante novamente. Ao recalcular a rota, ele decidiu levá-la para o hotel onde estava hospedado.