Capítulo 9 Casarei (II)
- Coração, prefiro morrer a vê-la casada com aquele desgraçado que a fará sofrer pelo resto da vida. Gabe Clifford não tem coração. E Jorel Clifford só pensa com o pau. Ele já comeu todas as mulheres do país que tem uma conta com mais de três dígitos. É um jogador viciado e um homem que não tem nenhuma qualidade. Vive das migalhas do irmão. Foi capaz de jogar uma herança bilionária fora.
- E desde quando você se preocupa com fidelidade, Ernest? – Rose riu com ironia e não tirei a razão dela.
Meu pai abaixou a cabeça, arrasado. Sim, ele tinha errado no passado, mas por que cobrar aquilo a vida inteira? Rose perdoou e quando tomou aquela decisão devia ter feito de coração e não da boca para fora. Todos, absolutamente TODOS os dias ela o lembrava da traição, da qual eu havia nascido.
- Eu mesma não me importo com traição – dei de ombros e sorri – É Jorel Clifford! Eu casaria com ele mesmo que não precisasse ser a única forma de salvação da nossa família – deixei claro.
- Coração, não estamos falando daquele rapazinho que você idolatra por conta das postagens nas redes sociais. Você já tem 19 anos. Precisa entender que vai muito além disto. Sofrerá, minha filha. Não terá um marido. Jorel seguirá a vida e Gabe Clifford deixou isto muito claro. Eles querem me destruir e eu nem sei ao certo o motivo.
- Desde quando você é alguém para Gabe Clifford querer destruir? – Rose descartou a possibilidade – Ele só quer uma esposa submissa para o irmão e certamente viu Olívia em algum lugar e a achou a pessoa perfeita para isto.
- Fui submissa por muito tempo – expliquei a ela – Não sou mais uma menina que todos podem manipular e obrigar a fazer o que querem. Estou escolhendo casar com Jorel e isto é por meu pai e minhas irmãs – deixei claro que o nome dela não estava incluído – Ser submissa é uma coisa. Abrir mão de algumas coisas em nome de quem se ama é outra. Ou seja, não sou submissa a papai e minha família e sim os respeito e amo o suficiente para fazer pequenos sacrifícios em troca da felicidade deles. Casar com Jorel Clifford é uma decisão que requer muita sabedoria para se tomada. E eu não aceitaria se não tivesse certeza que posso mudar o playboy mais amado de Noriah Norte – não contive o sorrisinho ao lembrar daquela carinha dele de “menino travesso” em todas as fotos nas quais posava.
- Não... – Papai tentou fingir que não concordava, mas nos olhos dele percebi que estava aceitando minha explicação.
Peguei o celular do bolso dele:
- Ligue para Jorel. Casarei.
Rose me abraçou. E sim, foi o primeiro abraço desde que a conheci, quando eu tinha dez anos de idade. Se foi sincero? Claro que não. Mas era melhor me dar um abraço do agradecimento do que morar debaixo da ponte não tendo nem onde guardar suas bolsas de marca.
Se aquilo era loucura? Sim, era. Quem, com todas as opções de mulheres do mundo para casar escolheria a mim? Eu não era feia, mas não tinha nada que pudesse me destacar de outras pessoas a não ser a diabetes tipo 1, escrever uma biografia de mim mesma e o otimismo que fazia parte de todo o meu ser. Era o tipo de pessoa que sempre via o copo “meio cheio”. E tinha um bom coração porque acreditava que era a única forma de tocar as pessoas.
Mas submissa? Não, eu não era. E as marcas no meu corpo provavam o quanto lutei para não deixar que fizessem comigo o que bem entendiam no passado. Deveria, pela lógica, ter crescido cheia de traumas e odiando o mundo. Mas acreditava que minha existência era por algum motivo e por isto escrevia minhas memórias ainda viva, num bloquinho, porque quando morresse achariam e publicariam minha biografia: “Olívia Abertton, a mulher que sobreviveu ao caos e a dor”. Talvez eu substituísse futuramente o “dor” por “diabetes”, já que não sabia quanto tempo a doença me deixaria viver. Eu tomava 15 doses de insulina por dia, mesmo seguindo todas as recomendações médicas.
Jorel Clifford seria só a cereja do bolo. A minha recompensa. O homem que tiraria minha virgindade, como sonhei algumas vezes. Sempre imaginei que ele devia ser bom de cama, já que tinha experiência.
- Você está... Sorrindo? – Meu pai tirou-me dos meus pensamentos.
- Sim. Estou feliz. – Deixei claro.
Meu pai fez uma ligação, saindo de perto de nós. Rose e eu ficamos nos encarando. Depois de um tempo ela disse:
- Não sei quais são seus planos, Olívia! Mas... Obrigada.
Um relampejo de humanidade em Rose Abertton? Por isso eu acreditava que sempre o copo estava “meio cheio”. Ela era horrível? Ah, era. Mas poderia ser pior... Tipo, mandar envenenar a minha comida.
- Falei com a secretária de Gabe Clifford e pedi que fosse marcada uma reunião para que você e Jorel Clifford possam se encontrar. – Papai retornou do canto onde fizera a ligação.
- E ele não aceitou! – Bufei.
- Aceitou. Será hoje à noite, num jantar na residência dos Clifford aqui na capital.
- O quê? – Rose gritou, num misto de desespero e alegria – Iremos conhecer uma das mansões Clifford? Não tenho nem roupa para isto! Preciso de cabelereiro, maquiagem... E um vestido novo, Ernest!
Não morávamos numa mansão? Sempre achei que fosse... Casa grande, em condomínio fechado, com mais quartos do que pessoas, todos suítes, cômodos amplos, móveis caros e de qualidade... Aquela mulher não sabia o que significava pobreza, literalmente. E se fosse posta frente a frente com aquela condição, morreria.
Óbvio que se adaptar à boa vida era muito mais fácil do que a ruim. E por este motivo fui muito dedicada e grata quando cheguei à casa dos Abertton, a fim de nunca decepcionar meu pai ou ser uma vergonha maior do que já era na sua vida.