Capítulo 2 Você vai casar Parabéns! (II)
- Se eu não casar com ela ficarei sem dinheiro?
- Não só isto!
- Não? – O olhar dele se estreitou, como se quisesse pagar para ver.
- Vou ferrar com a sua vida.
- Vou mandar fazer um exame de DNA. Duvido que tenhamos o mesmo sangue nas veias, Gabe. Olhe o que você está me dizendo!
- Você poderia ser o bebê da mamãe, Jorel, mas não é o meu! Sabe que meu tempo é precioso para que eu o perca com você. Então não teria lhe chamado aqui para “brincar”.
Meu irmão ficou um tempo em silêncio, pensativo. Mas eu o conhecia o bastante para saber o que o atormentava. Ele não era capaz de ficar comendo uma única boceta.
- Entenda uma coisa, Jorel. Eu só quero que você case com Olívia Abertton. Em momento algum eu disse que deveria deixar de viver a sua vida como sempre viveu? Aliás, eu já falei sobre um bônus a mais na sua mesada, não é mesmo?
- Quer dizer que... Se eu casar com a tal Olívia... Posso continuar fazendo tudo que sempre fiz? E... Ainda vou ganhar uma mesada maior? – Os olhos dele se arregalaram.
- Exatamente.
- Isto inclui...
- Sim, inclui sair e foder com quantas mulheres quiser. E a mídia? Pouco importa. Pode ser fotografado em boates, saindo com amigos, vivendo a sua vidinha medíocre de sempre. E não se preocupe com o nome da família. Se eu ler “Jorel Clifford, marido de Olívia Clifford, foi flagrado aos beijos com morena misteriosa em saída de Hotel de luxo”, lhe darei o valor dobrado da sua mesada.
- Você está me pagando o dobro do que me dá mensalmente para que eu case com uma gostosa, foda com ela e não deixe de foder com ninguém? E também não se importa se o nosso sobrenome valioso ficar na boca do povo, sendo o ganha-pão dos paparazzi de plantão? É bom demais para ser verdade! – ele sorriu, recostando-se confortavelmente na cadeira, sorrindo – Onde mesmo que eu assino?
Sorri satisfeito. Eu sabia que meu irmão caçula não me decepcionaria. Ele faria boa parte do serviço que era fazer a “garotinha do papai Abertton” chorar lágrimas de sangue. E isto, doeria no papai mais do que tudo. E o pior, ele não poderia fazer nada para ajudá-la. A dor dela seria a dele. Olívia Abertton, a filha do meio, a bastarda, a órfã, era a preferida daquele crápula. E eu a usaria para destruí-lo.
Se poderia mandar matá-lo ou até mesmo lhe dar um tiro com minhas próprias mãos? Claro que sim. Mas onde ficaria o doce sabor da vingança? Eu queria ver Ernest Abertton sofrendo como eu sofri, até que sua filha se tornasse um nada e desse fim à própria vida, cansada de tanto sofrer na teia que lhe preparei.
Ninguém melhor que Jorel Clifford para fazer aquele serviço. Meu irmão, diferente de mim, amava demais. Ele amava a vida, amava o dinheiro e literalmente amava todas as mulheres. E demonstrava isto através do seu pau.
As mais belas e famosas mulheres estiveram em sua cama e Jorel jamais deixou-se envolver-se emocionalmente com nenhuma delas. O coração dele pulsava no pau. E a pobre Chuchu não tinha nenhum tipo de encanto para fazer com que Jorel deixasse de ter pau no lugar do coração.
- Sabe que não posso fazer um contrato deste tipo, não é mesmo? – Esperava eu que ele entendesse.
- Por mim tudo bem.
- Mas no momento que casar, assim que assinar os papéis, na igreja mesmo, receberá o contrato assinado por mim onde aumentarei sua mesada para o dobro do valor. E claro que haverá alguns bônus caso seu nome saia na mídia, com aquelas garotas gostosas que você sai. – Incentivei.
- As prostitutas? – segurou o riso.
- Prostitutas? Eu jamais as chamaria assim. Aposto que saem com você porque tem um pau grande... Tão grande quanto o seu ego.
- Pode repetir?
- Nem fodendo.
Jorel gargalhou:
- Ok, vou seguir Olívia Palito no Insta – deu um clique no celular – Ela não é muito adepta de postagens. Na maioria das fotos está com uma garota... Que deve ter uns 16 – pareceu se interessar.
- Tem 13. E é a irmã dela.
- Como estas garotas estão botando corpo cedo! – ele meneou a cabeça – E já nas redes sociais! – suspirou – Curti e agora vou entra no PV para chamá-la para sair.
- Nem pensar! – De forma ágil me pus sobre a mesa e retirei o celular de suas mãos.
Jorel ficou me olhando com as mãos imóveis, o dedo ainda em processo de digitação:
- Gabe, eu não sei o que o tal Abertton fez para você... Mas confesso que eu tenho pena dele.
- Não é da sua conta. Esqueça o pai dela. Seu papel é sorrir e fazer o que eu mandar. Não quero que a chame para sair. O pai dela a obrigará a casar com você. Simples assim. Quero que ela tenha raiva dele.
Jorel estreitou os olhos, confuso. Eu não tinha que lhe dar satisfações. O papel dele era fazer o que eu mandava e pronto. E estava sendo bem pago para aquilo.
- Vou poder comer a minha esposa pelo menos?
- Sim... Ela e o restante das mulheres do país. Desde que não se apaixone pelo Chuchu, estará tudo certo.
- Eu, me apaixonar? – gargalhou – É mais fácil você se apaixonar do que eu.
Não me dei ao trabalho de revidar a babaquice que Jorel dizia, até porque ele não falava nada que fosse muito aproveitável.
- Agora levanta esta sua bunda preguiçosa daí e vá fazer algo útil.
- Como conquistar a Olívia Palito?
- Seu papel não é conquistar a garota, porra! – gritei, perdendo a paciência – Trate-a como o chuchu que ela é.
- Eu... Gosto de chuchu!
- Não, você não gosta de chuchu, Jorel. Ninguém pode dizer que gosta de chuchu porque é um legume sem gosto. Você só o tolera porque o come junto de alguma outra coisa.
- Já comi lula com chuchu e gostei. Tinham algumas especiarias como base do molho.
- Se o chef tirasse o chuchu o prato teria o mesmo gosto.
- Não acho!
- Quer mesmo discutir sobre o chuchu, porra? Quanto acha que vale o meu tempo?
Jorel levantou, atordoado, o dois dedos indicadores apontados para mim, como se precisasse decorar o que tinha que fazer:
- Caso com Olívia Palito, recebe o dobro de mesada, com quanto mais garotas eu trai-la, mais dinheiro ganho. E de bônus posso comer o chuchu... Mas não posso gostar. Porque lulas são melhores que chuchu.
- Fora! – gritei.
Ele saiu ainda andando de costas, falando mentalmente consigo mesmo, tão sério que parecia até que realmente estava tentando entender o que estava acontecendo. Pobre Jorel! Mal sabia que não precisava entender nada. Só casar no papel, deixar a filhinha do papai Abertton de lado e foder com tudo que tivesse uma boceta pelo caminho.
Interfonei para minha secretária, que ágil como sempre chegou em um minuto:
- Pois não, senhor Clifford.
- Marque um jantar de negócios com Ernest Abertton para amanhã à noite. Escolha o restaurante mais caro da capital de Noriah Norte. Diga que ele deve levar toda a família, a meu convite. E depois ligue para o restaurante e mande que insiram no cardápio o que tiverem de melhor a oferecer. Não quero pratos que possam sair em conta. Exijo um cardápio exclusivo, assim como um lugar reservado a mim e os Abertton.
- Estarei providenciando imediatamente, senhor Clifford. Mais alguma coisa?
- Não... É isto!
Ingrid saiu e recostei-me na cadeira, respirando fundo. Enfim, depois de tantos anos, a hora estava chegando. Ernest Abertton mal sabia o que lhe esperava: os piores dias de sua vida estavam batendo à porta. E viriam sob forma de tortura psicológica com a sua “menina dos olhos”.