Capítulo 6 Ninguém compreenderia, Alteza! (II)
— Está bêbada.
— Não estou bêbada! Acha que por uma pessoa ser sincera e falar a verdade não pode estar em sã consciência?
Max pegou a taça da minha mão e jogou-a longe. Ouvimos o som dela caindo na água. Levantei, aturdida e peguei a garrafa do espumante, bebendo o restante no gargalo. Quando acabei, joguei a garrafa na mesma direção em que ele atirou o copo, apontando o dedo na sua direção:
— Perdeu a sua oportunidade, “Max”!
Max levantou, atordoado:
— Por que nunca me falou antes sobre achar que eu não servia para você?
Eu ri:
— Achou que servia? Eu serei uma rainha dentro de alguns meses, Max.
Max balançou a cabeça, virando as costas em seguida:
— Você só se preocupa consigo mesma. Não é capaz de enxergar nada além do seu mundinho dourado.
— Eu me preocupo com o povo de Alpemburg, mais do que qualquer outra coisa. Faria qualquer coisa por este país.
Max virou na minha direção:
— Não, você nunca se preocupou com o povo de Alpemburg, Aimê. Só se preocupa com o que eles pensam a seu respeito. Só quer popularidade... Nada mais.
— Como se atreve?
— Foda-se você e sua vidinha idiota — gritou.
— Max, abra o outro espumante antes de ir, porra! — gritei no mesmo tom dele.
— Não! Você está bêbada!
— Não estou pedindo, Max! É... Uma ordem.
Max me encarou e seu olhos estavam tão frios que chegaram a me congelar por dentro. Mesmo arrependida da forma como estava tratando-o, não consegui evitar, como se fosse mais forte que eu.
Max voltou e abriu o espumante, enchendo a taça e me entregando:
— Esta foi a última vez que servi a princesa de Alpemburg. Me demito, Alteza. — Curvou-se de forma debochada.
— Não pode fazer isso.
— Sim, eu posso.
Joguei a garrafa longe e retirei meu vestido, sentindo o corpo arder como fogo e as bochechas parecerem queimar:
— Enquanto não assinar oficialmente sua demissão, continua sendo um serviçal da realeza. — Mordi o lábio provocantemente.
Max suspirou e veio na minha direção, furioso. Pensei que fosse me tocar, mas não, pegou o vestido e tentou colocá-lo de volta no meu corpo. Recusei-me a vesti-lo e agarrei-me nele, tentando alcançar seu pescoço, enquanto arqueava minha cabeça, contemplando-o:
— Você sempre esteve nos meus planos, Max — confessei. — Desde tempos atrás, quando ficamos amigos. Nunca me imaginei sendo rainha sem você e Odette ao meu lado.
Max deu-me um beijo leve nos lábios e abaixou o corpo levemente, abraçando-me:
— Vamos para casa, meu amor! Você realmente bebeu demais. Talvez amanhã nem lembre das coisas que falou.
— Não bebi minha consciência, Max! — Ri.
— E eu não me aproveitaria de uma garota que bebeu quase três garrafas de espumante, Alteza.
— Estamos num lugar completamente sozinhos, Max... Ninguém nos verá. Não existe porra de paparazzi por aqui... E sequer meu celular eu trouxe junto.
— Vamos embora... — Deu de ombros, soltando-me e juntando as coisas, pondo tudo no carro.
Enquanto ele guardava o que Odette havia organizado, eu sabia que minha primeira vez estava destruída. Ao menos com Max. Cruzei os braços, com o vestido sobre meus ombros, enquanto contemplava a luz da lua brilhando nas águas escuras do lago, parecendo a pintura de um quadro de algum artista famoso, sendo que era só um belo espetáculo da natureza, gratuito.
Pela primeira vez na vida, senti vontade de estar ao lado de alguém que eu gostasse de fato naquele momento, para partilhar o que eu via e o quanto aquilo me tocava... Coisas simples da vida, que para mim eram mais importantes do que qualquer outra. Senti falta do meu celular e o registro, para poder compartilhar com quem não tivesse a oportunidade de estar vendo o mesmo que eu naquele momento.
— Ponha seu vestido! — Max ordenou.
Virei-me na direção dele e sorri:
— Não!
— Alteza...
Eu ri. Max sempre era muito correto. E talvez se não fosse meu segurança, eu já teria feito muitas burradas.
Joguei o vestido nele e corri com dificuldade em direção ao carro, por estar descalça e sentindo as pernas fracas devido ao teor alcoólico da bebida. Max veio atrás. Entrei no carro, no lugar dele, em frente ao volante.
Ele parou ao meu lado:
— Já passou a uma hora que Odette nos deu. Aliás, quase duas. — Olhou no relógio.
Apertei o botão e o carro ligou, assustando-me um pouco.
— Saia daí, Aimê — Max gritou. — Que porra você está fazendo?
— Nada demais... Bebi além da conta... Agora quero dirigir...
— Não pode fazer isto. Não sabe dirigir... E está bêbada.
Ele tentou puxar a porta e pisei no acelerador, fazendo o carro dar um solavanco para frente, andando alguns metros. Olhei-o assustada:
— Como paro esta coisa? — Pisei em dois pedais, deixando o carro parecer desgovernado, andando de metro em metro e parando, jogando meu corpo para frente e para trás.
— Tire o pé do acelerador e ponha no neutro a alavanca ao seu lado.
Tentei apertar o botão e desligar tudo, mas não resolveu.
— Precisa pôr no neutro e tirar o pé ou não vai desligar... — Max tentava me acompanhar, atordoado.
Vi um flash na nossa direção, que cegou meus olhos. Instintivamente pisei sem querer no fundo de um dos pedais, e o carro saiu em alta velocidade. Peguei a direção e tirei os dois pés, o carro dando uma guinada levemente para o lado e ouvindo o estouro na lataria, sem entender o que estava acontecendo.
O carro finalmente parou. Abri a porta e vi o corpo de um homem jogado, o sangue escorrendo da sua testa e as pernas abertas, enquanto a máquina que tinha na mão estava há metros de distância, caída.
— Donatello! — gritei, dando-me em conta de quem era.
Max pegou-me e foi empurrando-me para dentro do carro.
— É Donatello, Max! Eu o matei — gritei novamente, em desespero.
— Entre no carro, agora! — ele pediu, nervosamente.
— Não... Temos que chamar uma ambulância. Ele precisa de socorro! — Senti as lágrimas invadirem meus olhos. — Eu matei Donatello...
— Foi sem querer, Aimê! Entre no carro! — Max gritou, me empurrando a contragosto, completamente apavorado.
— Não... Não podemos deixá-lo aqui... Não podemos... — Segurei-me na porta, tentando impedir que Max me pusesse para dentro do automóvel.
Max era muito mais forte do que eu. De forma agressiva me pôs sentada no banco do carona e passou o cinto violentamente sobre meu corpo, arrancando o carro em alta velocidade.
— Max... Não... — gritei, completamente apavorada.
— Ninguém compreenderia que foi um acidente, Alteza! — ele disse, a voz trêmula.