Capítulo 2 Um homem de coroa (II)
— Max é o meu segurança.
— E? — Odette mostrou as palmas das mãos, em sinal de dúvida. — Qual o problema? Seus pais jamais se importariam com isso. E o povo a ama de qualquer jeito.
— Eu serei rainha de Alpemburg.
— E ele pode ser seu marido.
— Odette, esperei a vida inteira para assumir o trono. Sempre sonhei com o momento da coroação. Eu amo a minha vida e sei que sou uma privilegiada depois de tudo que passei quando criança. Sempre pus na minha cabeça que eu casaria com um príncipe, alguém da realeza.
— Andrew Chevalier? — Ela riu.
— Andrew já arranjou sua princesa. E além do mais, ele não tem uma coroa ou título.
— Então você recusaria Andrew Chevalier?
— Por mais que o tenha amado durante toda a minha vida... — exagerei. — Eu diria não pelo fato de ele não ter uma coroa.
— Isso quer dizer que irá caçar um futuro rei ou alguém da realeza para casar?
— Não sou obrigada a casar. Não diz em lugar nenhum que para assumir o trono eu precise ter uma aliança no dedo direito.
— Ok, neste ponto eu concordo com você.
— Mas sim, se eu decidir um dia casar-me, será com alguém que tenha um título no mínimo, mas a preferência é por um homem que tenha uma coroa.
— Isso está bem escasso no “mercado de casamentos”. — Ela riu.
— Príncipes encantados?
— Exatamente. É mais fácil encontrar sapos.
— Sabe que os sapos depois de um bom beijo de língua podem se transformar em príncipes, não é mesmo?
— Que porra, Aimê!
— Max é um príncipe de tão lindo. Mas não tem uma coroa. Ou mesmo um título.
— Mas ele é rico.
— Um rico sem um título.
— Você está sendo cruel.
— Estou sendo realista. Idealizei a vida toda casar-me com um príncipe. Hoje evoluí um pouco... Pode ser um rei viúvo. Ou mesmo divorciado.
— Existem reis divorciados no mundo?
Dei de ombros, pensativa:
— Não... Ainda não. Mas há monarquia em vários países pequenos pelo mundo.
— Irá procurar de país em país?
— Eu poderia fazer um baile... Daqueles como se fazia antigamente, todos vestidos com trajes de gala... — Meus olhos brilharam. — E convidar os reis e rainhas existentes no mundo, com seus respectivos filhos.
— E cada um deveria trazer um presente para oferecer a princesa? — Ela balançou a cabeça, gargalhando. — Ou quem sabe conquistá-la através de uma música?
— Ou um prato típico... Quem sabe um suco! — A palavra suco saiu quase num grito, de tão afoita que fiquei.
Odette levantou-se:
— Devo dizer a Donatello Durand que ele poderá cobrir o futuro baile que vossa Alteza dará para a realeza mundial? Seria uma exclusiva?
Suspirei:
— Não... O baile não vai rolar. Tampouco Donatello como repórter. São só as divagações de uma princesa entediada trancada na torre enquanto lê a história da política de Alpemburg — divaguei.
— Você sofre de síndrome de princesa de contos de fadas.
— Não mesmo! E sabe por qual motivo?
— Estou curiosa.
— Porque elas casam virgem.
— E por acaso você não é mais? — Odette arregalou os olhos.
— Por pouco tempo. Hoje vou perder a minha virgindade.
Odette sentou-se novamente, o corpo praticamente caindo no colchão:
— Por acaso o príncipe chegará no cavalo branco exatamente hoje?
— Não. Mas já faz um tempo que decidi que não quero ser tão tradicional em tudo. Já basta a questão do meu futuro marido ter que ser herdeiro de uma coroa.
— Então... Do nada, você decidiu entregar sua virgindade ao Max?
Assenti, sorrindo.
Odette levantou, furiosa:
— Max não é um objeto, Aimê.
— Neste caso, eu seria o objeto dele. — Enruguei a testa. — Quem não quer ter o prazer de desvirginar uma menina inocente?
— Você, uma menina inocente? — Riu de forma irônica.
— Como eu já confessei, “gosto” dele. E sei o quanto ele é bom. Tenho certeza de que seria gentil e me faria gostar muito da experiência. E assim meu futuro marido não me acharia uma tonta, idiota. E eu teria mais experiência na hora do sexo.
— Pague alguém, porra!
— Para depois o mundo inteiro saber que eu “dei” para um homem que tive que pagar, tendo a disposição o gostosão do Max? Acha que sou louca? Além do mais é a minha virgindade. Não posso presentear qualquer um com ela.
— Max é um bom homem.
— Bons homens não têm lugar na minha vida.
— Então não transa com ele, porra! Sem contar o fato de Andrew Chevalier ser um bom homem. Ou seja, você não curte “badboys”, Vossa Alteza. — Curvou-se.
— Mandarei cortar sua cabeça! — Comecei a rir.
— Só lhe faço um pedido.
— Qual?
— Não brinque com Max. Ele é importante...
— Você... Gosta de Max? — perguntei, em dúvida.
— Eu? Claro que não.
— Prepare-se para hoje à noite. Papai e mamãe tem um jantar importante e eu, você e Max iremos para o parque do lago.
— O quê? No Parque do Lago à noite? Você bebeu?
— Não. Mas irei beber. Quero que organize tudo: bebidas de qualidade, taças, água, providencie algo para comermos também. E avise Max que ele irá dirigir.
— Outro carro nos acompanhará?
— Sim, pode ser. — Dei de ombros.
Eu sabia o quanto a segurança era importante entre os membros da realeza e claro que não abria mão daquilo em momento algum.
Mas eu queria mesmo aproveitar a noite. E não havia decidido de uma hora para outra. Era de tempos que queria sair um pouco e me divertir com meus verdadeiros e únicos amigos: Max e Odette.
Antes de tomar banho, peguei um livro de romance que eu já havia lido no mínimo umas vinte vezes. Se chamava “Par Perfeito” e estava na lista dos meus preferidos por uma cena picante em especial, que estava marcada com um pequeno post-it de cor amarelo neon, para que eu pudesse encontrá-la facilmente, sempre que quisesse.